REFUGIADOS Shellah Avellar

REFÚGIO

                A CÉU ABERTO

REFUGIADO

                      EM VIAS

                      ENVIESADAS

                              ESCALA DE SI

                   SEM                         SOL

                                PONTO DE FUGA                         

                   SEM                                     ORIGEM.

                                          O                HORIZONTE

                                                                    É ONTEM.

REPÚDIO

              AO LÉU.INCERTO.

REPUDIADO

                      EM ALEGRIAS.

                    SEM VOZ.

                    SEM CORTESIAS.

 PÁSSARO SEM

     TRINADO.

             OVO

                     SEM CHOCAR.

                     GEMA      FORA

                           DE LUGAR.

CARÍCIAS        

                            DE          

                              ESCORPIÃO.

                            DESCANSA

                NO                   CHÃO.

    BANHADO EM ÁGUAS FÉTIDAS.

                                                        SONHOS

                                                        SACOLEJANTES.

    BARCOS  

  FURADOS.

            MALAS  VAZIAS.

                      SEM PAIS.

                      SEM PAÍS.

                                         LUTO DA PRÓPRIA

                                                          HISTÓRIA.

                                          NUDEZ   

                                                     DE        ESPERANÇA .

                                 GLÓRIAS                                            ABORTADAS.

                      TEMPOS                 DE  

                                                       DESPREZO.

                                                      

1450152434446.jpg (620×349)

https://www.cnne.net.br/poesia-inedita-2019

http://www.jornalirismo.com.br/jornalismo/refugiados-migrantes-e-deslocados/

IN VINO VERITAS Shellah Avellar

Acrílico sobre Tela(70×140)SP 2018

COMO SE FOSSE A MADONA

COM SEU MENINO

A VIDEIRA E SUAS FOLHAS

SE ESTENDEM PARA O CÉU ,

CANSADAS DA REALIDADE.

PARA CONQUISTAR O AMOR,

ESTE IMPÉRIO EXTINTO.

OU RESGATAR UMA VIDA

QUE PARECE FORA DE SI…

intervenção vocal:ayiosha Avellar

música incidental:Comunhão (autoria:Fernando Brandt & Milton Nascimento)

MULHER Shellah Avellar

acrílico sobre tela (70×140)

MULHER-LUA

MULHER-SOL

MULHER QUE SANGRA

MULHER QUE AMANHECE

MULHER QUE CHORA

MULHER QUE ANOITECE

UM ESTRANHO JEITO

DE SER PERA E POEMA

E SEMENTE DE VIDAS

SUJEITA A ABUSOS

POR SER VIOLÃO

OU POR SER

MULHER SOMENTE

OBRA-PRIMA

EM CONSTANTE CONSTRUÇÃO ..

atriz: Ayiosha Avellar

MISCIGENAÇÃO Shellah Avellar

(Acrílico sobre tela 4Ox40)São 4 telas(20×20) k podem ser remanejadas, mostrando as várias possibilidades de diálogo entre as quatro raças humanas.(ainda ñ finalizada)

Como se fosse uma guerra

O BRANCO,O NEGRO,

O AMARELO E O VERMELHO

Se digladiam..

Entretanto Estas mil faces

Têm ímpetos de céu

E olhos cheios de estrelas..

VOCÊ SOU EU

EU SOU VOCÊ

Talvez não faça sentido.

Quantos pulos são precisos

Para juntos darmos um salto?

E podermos ser Tudo o que quisermos?

Abrindo a página

Em branco e preto

Para que todas as cores

Pinguem e se misturem?

E os pontos de vista

E acordes dissonantes

Se harmonizem

Em um único e vigoroso SOM?

DA COR DO ÉBANO Shellah Avellar

arte:shellAHAvellar


Transformar a sociedade parece que já não nos interessa.

Uma poética dos atos extensiva à comunidade humana é apenas metafísica individual.

Somos folhas ao vento, precárias, sujeitas às pressões de fraudes, abusos de poder e injustiças.

Talvez uma foto amarelada de uma resolução política motivada por uma solidariedade às vítimas das injúrias.

É um parto com fórceps, numa ilusão de que a nossa carne dilacerada sofre a dor dos outros.

De repente, entramos num estado letárgico em que nada mais se espera do Homem.

E, então, do silêncio dos nativos do planeta Terra, eis o grito primal da África-Mãe.

O primeiro batuque.

O sorriso branco ― brilhante de bocas carnudas.

Íris cintilantes de sábios encantados.

Divindades míticas de mantras arcaicos.

Pele que reflete um ébano azulado.

Gingado preciso de ancas e quadris afinados.

Pés que parecem levitar num compasso-contágio.

Pisando lamas, polindo pedras e assentando poeiras.

Milhares de pequenas vidas tão sem importância.

Desaparecendo esmagadas por outras vidas.

Exalam ervas viscosas de folhas viçosas, em caldeirões de fogo ardente.

Corações em trevas apodrecem fora das vistas do Mundo Branco.

Em brechas de sóis de sangue, em meio à confusão de formas e sombras.

Que ato humano faz sentido nas savanas?

Formigas que invadem os caules porosos.

Olhos fosforescentes com fixidez de eternidade.

Rápidas rajadas de pássaros.

Pântanos e fungosidades no limiar das matas, que extravasam o sinistro.

Um som nos invade a anima e o animus.

Dos tambores ancestrais da rija negritude ecoam a angústia de uma raça.

Que escreve um livro raro de infância no berço da raça humana.

E, aqui, esta jovem senhora estarrecida, sem uma palavra adequada, agoniza entre o brutal e o vacilante.

De que, entre escrever e agir, se faz necessário “não se esconder”.

Dos confins do horror do Preconceito, afasta o lodo infecto e disfarça a ironia de que sem as pérolas negras jamais haveria sons, cores e alegria.

Ouça também “Ébano”, de Luiz Melodia:

#BlackLivesMATTER #VidasNegrasIMPORTAM #aLutaSIM #aResistênciaSIM #oAmorSIM

EL COLOR DEL ÉBANO. Shellah Avellar

Transformar la sociedad parece que ya no nos interesa.

Una poética de los actos extensiva a la comunidad humana es apenas metafísica individual.

Somos hojas al viento, precarias, sometidas a las presiones de fraudes, abusos de poder e injusticias.

Quizás una foto amarillenta de una resolución política motivada por la solidaridad a las víctimas de las injurias.

Es un parto con fórceps, en la ilusión de que nuestra carne desgarrada sufra el dolor de los demás.

De repente, entramos en un estado letárgico en el que nada más se espera del Hombre.

Y entonces, del silencio de los nativos del planeta Tierra, he ahí el grito primario de África-Madre.

El primer toque de tambor.

La sonrisa blanca y brillante de las bocas carnosas.

Los iris centelleantes de sabios encantados.

Deidades míticas de mantras arcaicos.

Piel que refleja un ébano azulado.

Preciso contoneo de caderas y cinturas afinadas.

Pies que parecen levitar en un compás-contagio.

Pisando lodo, puliendo piedras y asentando polvo.

Miles de pequeñas vidas sin importancia.

Desapareciendo, aplastadas por otras vidas.

Hierbas viscosas rezuman hojas exuberantes, en calderos de fuego ardiente.

Corazones en tinieblas se pudren fuera de la vista del Mundo Blanco.

En las brechas de soles de sangre, en medio de la confusión de formas y sombras.

¿Qué acto humano tiene sentido en las sabanas?

Hormigas invadiendo los tallos porosos.

Ojos fosforescentes fijos en la eternidad.

Rápidas ráfagas de pájaros.

Pantanos y hongos en el umbral de los bosques, que desbordan lo siniestro.

Un sonido invade nuestra anima y animus.

De los tambores ancestrales de dura negrura resuena la angustia de una raza.

Que escribe un raro libro de infancia en la cuna de la raza humana.

Y aquí, esta joven señora horrorizada, sin una palabra adecuada, agoniza entre lo brutal y lo vacilante.

Que entre escribir y actuar, se hace necesario “no esconderse”.

Desde los confines del horror del Prejuicio, remueve el lodo infeccioso y disfraza la ironía de que sin las perlas negras jamás habría sonidos, colores y alegría.

Escuche también “Ébano” de Luiz Melodia

THE COLOUR OF EBONY. Shellah Avellar

Transforming society no longer seems to interest us.

A poetics of acts extended to the human community is hardly individual metaphysics.

We are leaves in the wind, precarious, subject to the pressures of fraud, abuses of power and injustice.

Perhaps a yellowed photo of a political resolution motivated by solidarity with the victims of insults.

It is a birth with forceps, in the illusion that our torn flesh suffers the pain of others.

Suddenly, we enter a lethargic state in which nothing more is expected of Man.

And then, from the silence of the natives of planet Earth, there is the primal cry of Africa-Mother.

The first drumbeat.

The bright white smile of the fleshy mouths.

The sparkling irises of enchanted sages.

Mythical deities of archaic mantras.

Skin reflecting a bluish ebony.

Precise swagger of hips and fine-tuned waists.

Feet that seem to levitate in a compass-contagion.

Treading mud, polishing stones and settling dust.

Thousands of unimportant little lives.

Disappearing, crushed by other lives.

Slimy grasses ooze lush leaves, in cauldrons of burning fire.

Darkened hearts rot out of sight of the White World.

In the gaps of blood suns, amidst the confusion of shapes and shadows.

What human act makes sense in the savannahs?

Ants invading the porous stalks.

Phosphorescent eyes fixed on eternity.

Rapid flurries of birds.

Swamps and mushrooms on the threshold of forests, overflowing with the sinister.

A sound invades our anima and animus.

From the ancestral drums of harsh blackness resounds the anguish of a race.

That writes a rare childhood book in the cradle of the human race.

And here, this horrified young lady, without a proper word, agonises between the brutal and the hesitant.

That between writing and acting, it becomes necessary “not to hide”.

From the confines of the horror of Prejudice, she stirs the infectious mud and disguises the irony that without the black pearls there would never be sounds, colours and joy.

Listen also to Luiz Melodia’s “Ebony”.

PALAVRÃO É UMA PALAVRA GRANDE Shellah Avellar

Steven Arthur Pinker, psicólogo e linguista canadense , acredita que a raiz histórica dos palavrões  talvez tenha  sido a religião, durante a Idade Média, quando evocar o nome de Deus de forma blasfema era o pior dos palavrões. Nesta época surgiram expressões tais como “vá para o diabo”.

Depois, foram sendo criadas novas expressões, ligadas à sexualidade e ao corpo humano e denominadas de baixo calão.

Seria  impossível listar aqui todos os palavrões do idioma português, pois diariamente surgem  mais maneiras de ofender alguém ou de expressar algum descontentamento e sentimento através de gírias  e outros xingamentos.

Talvez seja urgente conhecer palavrões aos quais você não esteja habituado. Você pode se surpreender com a quantidade e as   diversas variações a seu dispor para quando desejar espinafrar alguém.

Ou, quem sabe, você queira decorar algumas dessas palavras para usar em suas redes sociais para impressionar a galera com gírias raras e chocar com as expressões de cunho obsceno?

Talvez queira utilizá-los nas tribunas, nos pódios, nos microfones, nas entrevistas, nas coletivas de imprensa,  nas reuniões familiares, profissionais  ,executivas e  ministeriais,  nos botecos de sua preferência ou nas esquinas da vida.

Assim poderemos vê-lo fungando, careteando e agitando as mãos, enquanto espera que alguém traduza o seu desprezo pelos seres humanos.

Cúmulo da “ ignonímia “, você acha que pode impingir qualquer impropério aos bípedes engessados que lhe prestam atenção e comungam de seus desvarios.

Permite-se arengar sobre as Instituições que garantem o livre exercício do processo democrático.

Brinca de Deus, vociferando sua mixórdia de idéias, confinando-as na obscuridade e deixando o auditório perplexo.

Sim, você nos presenteou com uma cena única onde se enfrentam e se enlaçam a baixeza e a perversão.

O mais interessante é que os que o aplaudem e seguem, também são alvo de seu escárnio e de seus despropósitos de afundar a nação e de vendê-la a preços módicos sucateando todas as camadas de força produtiva deste país à exceção de seus comparsas.

A maior parte dos palavrões originaram-se de termos não-escatológicos que, por convenções sociais e metáforas de duplo sentido, acabaram por tornar-se uma forma obscena de representação. Diversos deles vieram de radicais latinos como a expressão “caralho”, que surgiu do latim characulu, “boceta”, que veio do latim buxis. “Foda-se”, que vem do latim futere e “puta”, que veio do latim putta. Alguns palavrões mantém seu sentido original, como “foda”, “cu” – forma estendida do latim culus. Algumas dessas palavras foram  aportuguesadas de línguas como o espanhol, francês e inglês, tais como o termo “merda”: “mierda” no espanhol e “merde” no francês.

E, ao assistir esta performance grotesca, me lembro do caricaturista e ilustrador inglês Georges Cruikshank, que desenha estas pequenas criaturas que nem sempre nasceram viáveis. Ejacula este mundo minúsculo que se revira, se agita e se mescla com uma petulância indizível, sem se inquietar muito se todos os seus membros estão bem em seu lugar natural e com muita frequência, se debatem como podem.

Para horror dos que me conhecem, me permiti aqui discorrer sobre o PALAVRÃO, que na verdade, significa expressão pomposa e empolada, ou, uma palavra GRANDE.

Sabem por que? Porque até ingressar na Faculdade de Arquitetura, só conhecia e falava o palavrão “merda”. Ou porque não ouvia outros em casa e nem no colégio. Ou porque talvez não sentisse necessidade de utilizá-los porque tinha mais o que “ler”.

Minha mãe me contou que aos três anos de idade, ela ficou intrigada ao me ver no quintal de casa tentando subir numa latinha .E, impreterivelmente, perdia o equilíbrio e dizia “meda”…E ela caía na gargalhada, porque sabia que quando algo dava errado, ela exclamava merda.

Ou seja, nunca subestime a atenção subliminar e a observação privilegiada de uma criança ao seguir o exemplo dos pais. Crianças são agentes secretos perigosos. Poderiam ser extremamente úteis se contratadas pela C.I.A ou pelo F.B.I. Vai que a moda pega…

Hoje, meu repertório aumentou bastante, até porque parece ser a tônica dos pronunciamentos do poder vigente e, aliás, “haja poder “. Portanto  não consigo evitar de ouvi-los e algumas vezes repeti-los .

Isto não faz de mim recatada e do lar, nem careta. Às vezes, as palavras suaves e os argumentos firmes podem atingir o alvo mais precisamente que o palavrão, quando este é proferido “sem lenço e sem documento”.

Tenho amigos e amigas que falam muitos palavrões e acho o maior barato, porque não consigo vê-los sem portar seu rol de “palavras grandes “muito bem empregadas e na hora certa, no lugar certo e para as pessoas “incertas”…

Cai muito bem em humoristas e comediantes como Paulo Gustavo e o Coletivo Porta dos Fundos.

Por outro lado, também acho o Pedro Cardoso o máximo quando diz que não fala palavrões e arrebenta na retórica para defender seus pontos de vista.

Não estou aqui para defender a tradicional família brasileira com a hipocrisia de que não falar palavrões é sinônimo de boa educação.

A dor e a repulsa me acometem quando os nossos compatriotas  estão sucumbindo -literalmente a céu aberto – numa tragédia pandêmica, esta sim, despudorada e de proporções sem precedentes na história do Brasil.

Os estrondos da servidão ao ódio, que resulta de um acasalamento de insetos que se agarram no abraço da agonia, esfacelam nossos tímpanos quando você interpreta seu monólogo de destruição.

E, assim, como os artistas, que você persegue tanto, desejam boa sorte a seus pares nas estreias de seus espetáculos, lhe desejo: MERDE!

Estamos aqui, na fila do “gargarejo” aguardando o gran- finale.

E, talvez, este grand-finale, não seja aquele em que A Educação, Os Direitos Humanos, a Saúde ,o Meio-Ambiente e a Economia se utilizem de bizarrices e confidências cifradas e decretos oficiais misturados num saco de lixo esquecido no último vagão do trem dos horrores.

Mas, seja, sim, quem sabe, uma esperança desesperada, que num átimo estertoroso de oblação, transforme água em vinho e o sangue em pão e grite:

LIBERDADE!ABRA AS ASAS SOBRE NÓS!

http://editoralimiar.blogspot.com/2020/07/palavrao-e-uma-palavra-grande.html

HERÓIS IMPUROS Shellah Avellar

Não há nobreza mais antiga do que a dos jardineiros, dos abridores de fossas

 e dos coveiros…

Quem é que constrói mais solidamente do que o pedreiro, o carpinteiro e o
construtor de navios? Quando te fizerem de novo essa pergunta, responde que é o coveiro, porque a casa que ele constrói dura até o dia do Juízo.

                                                                        HAMLET, ATO V, Cena I  William Shakespeare

Uma descoberta de nossa insignificância permeia o noticiário e a nossa mente por conta da pandemia do COVID19. Ou, para os menos sensíveis à dimensão em que o Corona Vírus reafirma sua realidade, no estado de  São Paulo, com mais de 3000  óbitos, e o Brasil como epicentro  com aproximadamente 149 mil  contaminados, como  apenas uma “gripezinha”.

 O estado de coisas do abandono, nos condena a um obscuro naufrágio de nosso personalismo ao nos defrontarmos com o verdadeiro sentido da vida.

Fecham-se as cidades e morrem-se aos montes por aí, mundo afora. A imprensa se limita a túmulos e as pessoas inventam epitáfios que se servem da arte para oferecer a si mesmas a própria tragédia de não poder se despedir condignamente de seus entes queridos.

Os cidadãos do planeta Terra se limitam às janelas de suas casas para poderem observar o mundo e a ele se apresentar numa comunhão mística com sabor de desespero.

O imaginário se relaciona com lendas fúnebres. A melancolia parece esgotar a fonte do fantástico.

Uma virtude humanística se ergue como fraternidade viril de tentar alimentar a fome da massa que sempre a conheceu de perto.

A vontade se promove convertida à declamação política confinada, que é ao mesmo tempo a razão da derrota e a infeliz submissão ao bestiário que assola o país.

Tudo o que se sabe deste tsunami pandêmico no Brasil, é que é brutal e dissimulado. Que anestesia o povo, enchendo as valas comuns e causando um colapso.

E,os invisíveis, são proclamados heróis. Os profissionais da Saúde, da Limpeza e os Coveiros estão sob os holofotes.

Mas, quero me ater aqui, precipuamente, aos coveiros.

Estes seres humanos ,que em várias sociedades do mundo  sofrem grande discriminação   social e são rotulados  como “impuros.

Na Índia, pertencem à casta dos “intocáveis” e no Japão conhecidos como os “burakumin”.E,aqui, no Brasil,seriam então denominados de “Os Severinos”.

Será esta então a Nova Revolução Social ,da qual não nos demos conta porque estamos ocupados demais tentando xingar o desgoverno e fazer memes e chistes “ de” e “sobre “ quem não merece um milímetro de nossa atenção?

Mas,como podemos pensar em revolução se estamos apenas olhando nosso umbigo e reclamando de nossas mazelas enquanto os soldados da linha de frente se arrebentam para tentar curar ou sepultar nossos mortos?

Admitir definitivamente que vivenciamos um luto político em que a Democracia agoniza em praça pública?

E,quem pode se equilibrar entre reflexão e ação?Quando o enigma das formas demoníacas da Babilônia e da Igreja têm a mesma face?

Quem resistirá à  invasão dos répteis  e a ode ao blefe?

Segundo Karl Marx ,a classe revolucionária ascendente está destinada a suplantar a classe dominante  anterior . E é frequentemente referida como “coveira” da classe anterior. Assim, o papel histórico da   burguesia seria   de “coveira do feudalismo.

Tendo depois criado uma vasta e explorada “classe trabalhadora” , destinada a organizar e a promover uma revolução, teria feito com que a burguesia inevitavelmente criasse sua própria” coveira”.

Isto me faz lembrar um fato interessante sobre meu pai marxista e Samuel.

Ao menos duas vezes por semana, um senhorzinho muito simples,extremamente magro,mas de estrutura pétrea e com músculos definidos.Faces macilentas e sulcadas de rugas profundas .E calos que se apresentavam num aperto de mão vigoroso.Batia lá na porta de casa às 5 horas  da tarde.

Era o Samuel.Quando meu pai não estava a gente se limitava a dar a ele um dinheirinho que meu pai já deixava reservado ao personagem desta história.Quando meu pai estava, convidava o velhinho para entrar, sentar-se à mesa conosco para um lanchinho,para horror de minha mãe e para aguçar  minha curiosidade sobre aquele homenzinho quase sempre com cheiro de suor forte e olhar triste e penetrante.

Um dia perguntei ao meu pai,porque ele o convidava e quem era aquele homem.Ele repondeu com a maior tranquilidade: -Samuel é uma espécie de herói.Ele atende a humanidade no fim da cadeia alimentar.Merece todo o nosso respeito.

Quando meu pai morreu,num “acidente de carro” em fevereiro de 1971,minha mãe ficou com depressão profunda e eu fui impedida de chorar em casa,porque ela começava a gritar.

Então,eu ia ao cemitério,visitar o túmulo de meu pai,para poder chorar“tranquilamente”.

Mas, quando lá chegava,era mais uma vez impedida  de chorar.Porque o “coveiro “ Samuel estava inconsolável e chorava copiosamente a morte de meu pai.E alguém tinha de lhe dar atenção.E,este alguém era eu.

Por conta dos óbitos tenho pensado muito no Samuel e em todos os outros Samuéis que talvez não tenham tido a sorte de encontrar alguém que lhes respeitassem e lhes desse o verdadeiro crédito de heróis.

Aqui vai a minha gratidão aos Samuéis e Severinos que se transformaram em Prometheus permitindo aos nossos ter  ao menos uma cova digna  para poder  perecer serenamente e receber  o nosso adeus, ainda que à distância.

E para Aqueles que exploram a fé dos cegos e desavisados, em atos que se traduzem em cifras e impropérios, ofereço a minha compaixão de que é preciso perdoá-los “porque não sabem o que fazem”.

E, que tomem conhecimento de que “ninguém engana todo o mundo, todo o tempo  e para sempre.”.

Os homens se massacram aos milhares, seja por “propaganda enganosa” ou por odiosa violência.

No momento o que nos aproxima é um inimigo comum invisível.

O que nos separa é a defesa de privilégios e “mais valia” em detrimento da Vida. Talvez seja preciso muito tempo , sangue suor e lágrimas, para que se sonhe com a  libertação.

Mas com a Vida e a Morte, não há negociação. Somos todos reféns de Samuéis e Severinos.

Mais dia, menos dia, teremos um editorial de adeus e seremos apenas um número em alguma lápide esquecida de algum cemitério.

Resta-nos deixar um rastro de poeira de fim de mundo que caracterize nossas escolhas em vida:

Mentiras e baixezas? Ou sonhos de liberdade e igualdade?

Finalizo com o Funeral de um Lavrador do velho Chico Buarque, bom companheiro de balbúrdias sem fim:

Esta cova em que estás por palmos medida

É a conta menor que tiraste em vida.

É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio


Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45132/

tema Musicado por Chico Buarque para MORTE E VIDA SEVERINA de João Cabral de Melo Neto

charge@laertecoutinho

FILÓSOFOS DA MARGINAL Shellah Avellar

Eram 10 horas da manhã de um sábado ensolarado.

E então, partimos, os quatro cavaleiros apocalípticos em sua jornada mítica em busca de nosso herói de cada dia.

Desafiando a carga da semana que trazíamos nas costas, desfilamos a pé pelas entranhas da Paulicéia. 

Pelas calçadas múltiplas adormeciam embolados sob cobertas improvisadas, panos e mantas rotas-os invisíveis- homens, mulheres e crianças que sonhavam a sono solto em pleno dia, num repasto de reis, posto que recolhiam da vida suas últimas gramas.

Como num trem-fantasma, silenciosos, prosseguíamos em nossa cavalgada a pé, como observadores privilegiados das misérias humanas, num retrato sem retoques. 

Tentamos o Terraço Itália, sem sucesso, num átimo de fugir do rés do chão e ampliar a perspectiva para tornar microscópica aquela dura realidade.   

Nos distraímos com a majestade das velhas construções revitalizadas e evocamos o espaço dos apartamentos e seus pés direitos quase imperiais, comparando às ínfimas caixas de fósforo em que hoje nos amontoamos, imposição da moderna engenharia urbana.

O ir e vir dos cidadãos se atropelando para consumir os preços módicos do comércio do centro, atrasou nossos passos. Enfim, o Teatro Municipal, o Viaduto do chá e tudo parecia simples e corriqueiro.

De repente, o coração sonhava, atraído pelos arranhados toscos de um violino ao longe.Um homem, sentado num caixote, com um chapéu no chão, onde descansavam algumas parcas moedas.

A imagem se precipita na paisagem corriqueira. Paramos. Seu nome? José Rosa, que paradoxo. Num cenário de vida tão nublado a nossos olhos desavisados- lá está ele: José Rosa,80 anos. Abre um sorriso que ilumina qualquer desesperança.

Desata numa prosa simpática, floreada de rompantes filosóficos a invejar qualquer simples mortal.

José Rosa se salienta. Desandou a falar de sua vida: “Enviuvei duas vezes”.

Hoje, mora, de favor, numa Kombi velha estacionada no estacionamento de um de seus dez filhos que botou no mundo para cirandar a vida.

Os olhos brilhantes de um ancião cuja sabedoria foi garimpada nos tempos de “carreto humano” hoje substituído pelos instrumentos musicais por conta do peso dos oitenta anos. Autodidata, aprendeu a tocar violão, acordeão e violino. Marqueteiro por excelência, astuto como ele só, percebeu na excentricidade do instrumento o violino o diferencial nas ruas, para chamar a atenção dos transeuntes, já viciados nos sons dos violeiros da cidade.

A alegria no seu semblante, intriga a todos nós. Ele reforça:” A música é divina- a alegria diária da ausência de revolta, da aceitação da própria condição, traz a paz. O sofrimento é objeto de nossa relação com o conhecimento. A resignação com a própria condição faz o coração se aquietar.”

Envergonhados nos despedimos e continuamos nossa jornada, com um gosto de saudade daqueles olhos feiticeiros do José Rosa, que nos embebedou com o suave licor da cana daquele moinho de energia.

Alcançamos a Praça da Sé e um pregador da Igreja Pentecostal, entre outros oito pregadores, nos fez estancar por ali.

Francisco Alves, de terno cinza e gravata azul marinho. Bíblia na mão, dedo em riste, caminha em círculos, vociferando os versículos e salmos com uma convicção inabalável.

O que parecia mais um daqueles cegos fanáticos, nos surpreende ao discorrer sobre Política, Mídia e os Illuminati.

Chegamos mais perto e Alves nos conta sua vida. Mora na Vila Nova Cachoeirinha e sai para pregar a palavra na Sé aos sábados. Novo, por volta dos 30 anos, trabalha como porteiro em alguns prédios e é separado da mulher e filhos.

Sua verborragia nos intriga. Há uma lucidez em seu discurso “hipnótico”….

É um daqueles oradores que catalisam  seu público. Faz da calçada seu púlpito e da bíblia sua batuta, qual maestro exímio, orquestra os passantes num banho harmonioso de fala e busca por coerência. Olhar vivo e penetrante, apesar da baixa estatura ele se destaca e discorre seguro sua argumentação.

Sob a égide dos parâmetros da Igreja Pentecostal, ele se derrama ao exibir seus conhecimentos de informática, YouTube e outras redes sociais, que embasam o testemunho sobre as verdades que acredita e prega.

Mas, particularmente, a mim, interessa seus eflúvios sobre os Illuminati, sociedade secreta da era do iluminismo, hoje referência de uma suposta Organização Conspiratória. O estabelecimento de uma nova ordem mundial, que controlaria os assuntos universais com o objetivo de unir o mundo em uma única regência que se baseia em um modelo político onde todos são iguais. 

Sou abalroada por pensamentos e sensações desencontradas e vislumbro o Alves, em veste de linho branco, descalço pelos pavimentos da Sé. E o som de sua voz, dá lugar às pítias e outros gregos do Oráculo de Delfos,que desfilam em minha visão onírica- Filósofos da Marginal – Rosa, através do seu violino. Alves através de sua “pretensa” crença.

Ambos portam “muletas” a justificar nossa jornada mítica do herói.

Não foi em vão. Rosa e Alves, nos salvaram da mesmice dos sábados paulistanos e nos transportaram para lugares inimagináveis.

Arrancaram à fórceps, qualquer preconceito ou estereótipo cristalizado em nossas células que explodiriam num tsunami de emoções desenfreadas.

A partir dali nada mais fazia sentido em nossa caminhada.

O nosso periscópio deu um freeze u na imagem “entusiasmada” de nossos sábios urbanos.

Entramos na Catedral da Sé, em busca de algum vestígio ou fagulhas daqueles olhares incandescentes.

Tateamos pelos jardins do Pátio do Colégio em busca de nossa salvação.

Batemos o sino várias vezes para nos lembrar da nossa inocência do passado em que a fé se acendia nas velas das procissões do santíssimo.

A fome bateu e nos valemos de São Jorge e tentamos nos anestesiar na cerveja original, daquela estranha filosofia que nos contaminou. E, seguimos, rumo à estação da Luz, ainda esperançosos de que lá encontraríamos algo que superasse o impacto daqueles encontros inusitados.

Descansamos um pouco no Parque, tentando nos maravilhar com as esculturas bizarras que se esparramaram pelos jardins.

E, desalentados e exaustos, voltamos para casa.

Não éramos mais os mesmos. As partituras de um violino perdido na multidão esvoaçavam em nossas mentes.

O farfalhar seco das folhas amareladas de uma bíblia gasta, estalava em nossos ouvidos como um bate-estacas.

Nascia um rio, em nossos corações, de uma hidrografia incomensurável, regada a sangue, suor e lágrimas, congelando as nossas veias e desencadeando em nós um céu de arco-íris em tons cinzentos, pelas lembranças dos filósofos da marginal e das armaduras que criaram para se proteger da morte e das profecias que anunciavam.

E, que, ao que tudo consta, estão “prestes” a se realizar.

O CONTO FILÓSOFOS DA MARGINAL ,NA CATEGORIA LENDA URBANA, FICOU DENTRE OS 10 SELECIONADOS DE 600 TRABALHOS DO BRASIL E DO EXTERIOR PELO DEPARTAMENTO DE LETRAS ,DO NÚCLEO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS –NEL DA FURB-FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU,SANTA CATARINA.

O TRABALHO CONTOU COM 42 AVALIADORES(38 deles Professores Universitários).

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ORGULHO LIGHT Shellah Avellar

Só queria me lembrar de alguma coisa bem macia…sabe…assim bem soft, tipo  quando você chega de um dia de trabalho super produtivo e se deixa jogar num sofá que é uma nuvem…cor de rosa, igual algodão doce, por que não?

Ou um banho de espuma com direito a fazer bolhas de sabão que inundam o banheiro, a casa toda, invade a vizinhança, toma a cidade e as estrelas.

Ou deitar na grama orvalhada, numa manhã, daquelas brilhantes de inverno, que não queima, mas dá o testemunho da grandeza da vida em sua plenitude.

É isto. Ah! Hum…mas, vem somada a uma espécie de Orgulho. Existe Orgulho do bem?

E, aí, Mano Criador? Segura esta!

Não é orgulho-gay. Não é orgulho-hetero.Não é orgulho- black.Não é orgulho- White.Não é orgulho-rich.Não é orgulho-poor.

E muito menos orgulho male ou orgulho female.

Por que será que tô misturando inglês com português?

Frescurinhas?? Não.

Acho que light é uma palavra realmente light.

Se é que isto pode expressar o sentimento, a sensação, o feeling de ter tido o privilégio de assistir às Aventuras de Abou, ou “Quando eu morrer vou contar tudo a Deus.”

Aquele Abou que num jogo de espelhos prismados pelo sol mais reluzente que a gente poderia se permitir imaginar, nos leva com ele e sua dog- bag pra viajar poraí afora.

Misturada numa platéia de crianças acompanhadas de seus pais e mães, eu assisti de camarote aqueles meninos ,ou melhor “os meus meninos” …ahhhh vai, deixa eu chamar eles  de “meus”.

Sá por que?

Porque vi estas crianças crescerem, não como a mãe natural ou adotiva, mas como uma espécie de “Mita da Quebrada “  de braços dados com a “Madona Negra” e Dioniso e abraçada às mães destes garotos. É eu sou metida mesmo. Eu vi um gueto de diamantes brutos.

Eu tive a bênção de ver extirpadas as durezas destas pedras preciosas prontas pra explodir em mil arco-íris.

Eu vi, minha gente! Cada gota de suor, ansiedades, muitas mágoas, corações acelerados, muita raça, muito cansaço. E, eu vi. Emergir de cada um deles um lótus de amor pela profissão. Sim, eu os vi ressurgir da lama da falta de oportunidades e da falta de reconhecimento

Mas, que profissão é esta, meus senhores?

Estar a serviço da arte, não é para fracotes.

É esculpir a ferro e fogo cada talento em suas múltiplas expressões, dia sim e outro também

Eu vi. Eu estava lá. Como observadora privilegiada da alquimia.

E, domingo, ali, calmamente imantada à massa de crianças, me vi naquela mala, brincando de ficar sem respirar junto com Abou.

Eu vi uma lágrima escorrer de emoção e orgulho dos olhos da Mãe África.

Eu vi o baobá nascer, engrossar suas raízes, que se enroscam nestes meninos de ouro, e os protegem .Estes meninos do Coletivo O Bonde, que merecem estar aqui e agora ,usufruindo desta calmaria e se deixarem levar pelas águas destes mares do planeta terra com direito a ir e vir pra onde quiserem estar.

É uma onda de rutilâncias que vem lavar a alma de todas e todos nós que nos permitimos ser abalroadas(os) por Abou e sua fértil imaginação,  através da sensibilidade e talento de Maria Shu que nos presenteou com a magia da fantasia que desmonta os horrores do preconceito e das guerras  e cava túneis  de luz  em tempos de desprezo.

#o AmorSIM

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Quando eu morrer, vou contar tudo a Deus

Drama, Livre.

 Sinopse: A partir de uma manchete real de 2015, a peça conta a história do menino Abou, refugiado negro de oito anos que é encontrado dentro de uma mala de viagem tentando entrar ilegalmente em Ceuta, cidade autônoma da Espanha que faz fronteira com o norte da África através da fronteira Tarajal. Na sua imaginação, a mala se transforma na cachorra que nunca teve, Ilê, que divide espaço com um rádio quebrado e as histórias de Nyame, o Deus do céu. A imaginação fértil do menino Abou e sua curiosidade dentro de uma mala de 41×66 torna menos penosa sua longa viagem rumo ao planeta Europa e as estratégias de sobrevivência num mundo hostil e totalmente desconhecido.

Local: SESC Belenzinho (Leste)

Elenco/Direção: Texto: Maria Shu. Direção: Ícaro Rodrigues. Elenco: Jhonny Salaberg, Filipe Ramos, Marina Esteves, Ailton Barros (Coletivo O Bonde).

Data: até 14 de Abril; Sábado e Domingo, às 12h.

Preço: R$ 20,00

Gratuito para menores de 12 anos.