DA COR DO ÉBANO Shellah Avellar

arte:shellAHAvellar


Transformar a sociedade parece que já não nos interessa.

Uma poética dos atos extensiva à comunidade humana é apenas metafísica individual.

Somos folhas ao vento, precárias, sujeitas às pressões de fraudes, abusos de poder e injustiças.

Talvez uma foto amarelada de uma resolução política motivada por uma solidariedade às vítimas das injúrias.

É um parto com fórceps, numa ilusão de que a nossa carne dilacerada sofre a dor dos outros.

De repente, entramos num estado letárgico em que nada mais se espera do Homem.

E, então, do silêncio dos nativos do planeta Terra, eis o grito primal da África-Mãe.

O primeiro batuque.

O sorriso branco ― brilhante de bocas carnudas.

Íris cintilantes de sábios encantados.

Divindades míticas de mantras arcaicos.

Pele que reflete um ébano azulado.

Gingado preciso de ancas e quadris afinados.

Pés que parecem levitar num compasso-contágio.

Pisando lamas, polindo pedras e assentando poeiras.

Milhares de pequenas vidas tão sem importância.

Desaparecendo esmagadas por outras vidas.

Exalam ervas viscosas de folhas viçosas, em caldeirões de fogo ardente.

Corações em trevas apodrecem fora das vistas do Mundo Branco.

Em brechas de sóis de sangue, em meio à confusão de formas e sombras.

Que ato humano faz sentido nas savanas?

Formigas que invadem os caules porosos.

Olhos fosforescentes com fixidez de eternidade.

Rápidas rajadas de pássaros.

Pântanos e fungosidades no limiar das matas, que extravasam o sinistro.

Um som nos invade a anima e o animus.

Dos tambores ancestrais da rija negritude ecoam a angústia de uma raça.

Que escreve um livro raro de infância no berço da raça humana.

E, aqui, esta jovem senhora estarrecida, sem uma palavra adequada, agoniza entre o brutal e o vacilante.

De que, entre escrever e agir, se faz necessário “não se esconder”.

Dos confins do horror do Preconceito, afasta o lodo infecto e disfarça a ironia de que sem as pérolas negras jamais haveria sons, cores e alegria.

Ouça também “Ébano”, de Luiz Melodia:

#BlackLivesMATTER #VidasNegrasIMPORTAM #aLutaSIM #aResistênciaSIM #oAmorSIM

EL COLOR DEL ÉBANO. Shellah Avellar

Transformar la sociedad parece que ya no nos interesa.

Una poética de los actos extensiva a la comunidad humana es apenas metafísica individual.

Somos hojas al viento, precarias, sometidas a las presiones de fraudes, abusos de poder e injusticias.

Quizás una foto amarillenta de una resolución política motivada por la solidaridad a las víctimas de las injurias.

Es un parto con fórceps, en la ilusión de que nuestra carne desgarrada sufra el dolor de los demás.

De repente, entramos en un estado letárgico en el que nada más se espera del Hombre.

Y entonces, del silencio de los nativos del planeta Tierra, he ahí el grito primario de África-Madre.

El primer toque de tambor.

La sonrisa blanca y brillante de las bocas carnosas.

Los iris centelleantes de sabios encantados.

Deidades míticas de mantras arcaicos.

Piel que refleja un ébano azulado.

Preciso contoneo de caderas y cinturas afinadas.

Pies que parecen levitar en un compás-contagio.

Pisando lodo, puliendo piedras y asentando polvo.

Miles de pequeñas vidas sin importancia.

Desapareciendo, aplastadas por otras vidas.

Hierbas viscosas rezuman hojas exuberantes, en calderos de fuego ardiente.

Corazones en tinieblas se pudren fuera de la vista del Mundo Blanco.

En las brechas de soles de sangre, en medio de la confusión de formas y sombras.

¿Qué acto humano tiene sentido en las sabanas?

Hormigas invadiendo los tallos porosos.

Ojos fosforescentes fijos en la eternidad.

Rápidas ráfagas de pájaros.

Pantanos y hongos en el umbral de los bosques, que desbordan lo siniestro.

Un sonido invade nuestra anima y animus.

De los tambores ancestrales de dura negrura resuena la angustia de una raza.

Que escribe un raro libro de infancia en la cuna de la raza humana.

Y aquí, esta joven señora horrorizada, sin una palabra adecuada, agoniza entre lo brutal y lo vacilante.

Que entre escribir y actuar, se hace necesario “no esconderse”.

Desde los confines del horror del Prejuicio, remueve el lodo infeccioso y disfraza la ironía de que sin las perlas negras jamás habría sonidos, colores y alegría.

Escuche también “Ébano” de Luiz Melodia

THE COLOUR OF EBONY. Shellah Avellar

Transforming society no longer seems to interest us.

A poetics of acts extended to the human community is hardly individual metaphysics.

We are leaves in the wind, precarious, subject to the pressures of fraud, abuses of power and injustice.

Perhaps a yellowed photo of a political resolution motivated by solidarity with the victims of insults.

It is a birth with forceps, in the illusion that our torn flesh suffers the pain of others.

Suddenly, we enter a lethargic state in which nothing more is expected of Man.

And then, from the silence of the natives of planet Earth, there is the primal cry of Africa-Mother.

The first drumbeat.

The bright white smile of the fleshy mouths.

The sparkling irises of enchanted sages.

Mythical deities of archaic mantras.

Skin reflecting a bluish ebony.

Precise swagger of hips and fine-tuned waists.

Feet that seem to levitate in a compass-contagion.

Treading mud, polishing stones and settling dust.

Thousands of unimportant little lives.

Disappearing, crushed by other lives.

Slimy grasses ooze lush leaves, in cauldrons of burning fire.

Darkened hearts rot out of sight of the White World.

In the gaps of blood suns, amidst the confusion of shapes and shadows.

What human act makes sense in the savannahs?

Ants invading the porous stalks.

Phosphorescent eyes fixed on eternity.

Rapid flurries of birds.

Swamps and mushrooms on the threshold of forests, overflowing with the sinister.

A sound invades our anima and animus.

From the ancestral drums of harsh blackness resounds the anguish of a race.

That writes a rare childhood book in the cradle of the human race.

And here, this horrified young lady, without a proper word, agonises between the brutal and the hesitant.

That between writing and acting, it becomes necessary “not to hide”.

From the confines of the horror of Prejudice, she stirs the infectious mud and disguises the irony that without the black pearls there would never be sounds, colours and joy.

Listen also to Luiz Melodia’s “Ebony”.

4 respostas para “DA COR DO ÉBANO Shellah Avellar”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *