OLÁ,ALÔ! CAMARADINHAS!
VOU LOGO ME APRESENTANDO,
PORQUE NÃO TENHO TEMPO A PERDER.
EU SOU A LEI TRABALHISTA
CONHECIDA NO BRASIL COMO CLT.
QUE VOCÊ, ALIÁS,
COM TODA A CERTEZA,
JÁ OUVIU DIZER:
EU SOU A TAL DA CLT
CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO.
MAS NÃO DÁ PRA FALAR DE MIM,
SEM FALAR PRIMEIRO NO TRABALHO
CUJA ORIGEM VEM DO LATIM
QUE NA VERDADE É TRIPALIUM,
QUE SIGNIFICA TORTURA.
MINHA PRIMEIRA ATUAÇÃO
FOI A ESCRAVIDÃO,
DO HOMEM PELO PRÓPRIO HOMEM.
POR MUITO TEMPO ASSIM FOI,
SEM TER DIREITO ALGUM.
E ATÉ HOJE AINDA HÁ LUTA,
PRA SAIR DESTA DESDITA
DE UMA VIDA MAL VIVIDA.
A REVOLUÇÃO FRANCESA DE 1848
RECONHECEU O DIREITO AO TRABALHO.
E COM A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
NO FIM DO SÉCULO DEZOITO
O HOMEM QUE ERA COISA,
VIROU O TAL DE “EMPREGADO”.
E AQUELE QUE ERA O DONO
PASSOU A SER O “SALVADOR”.
DIGO “O EMPREGADOR”.
INAUGURANDO
UMA ESCALA DE CLASSES,
ENTRE OLHOS BAIXOS
E NARIZES EMPINADOS.
PASSOU A CHOVER TORTO,
CADA UM NO SEU TELHADO.
AQUI NO BRASIL
SÓ EM 1943
EU FUI APROVADA
PELO ENTÃO PRESIDENTE
GETÚLIO VARGAS.
SÓ QUE A NORMALIDADE
DAS LEIS
FAZEM MAL À POESIA.
E EU TÔ AQUI PARA EVITAR,
QUE MAIS BOCAS SE VÃO AO CHÃO.
DESEXPLICANDO AS VILEZAS
DE REIS E DE SUAS REGÊNCIAS,
ARRANCO ÊXTASES DA AFLIÇÃO.
ENSAIO UNS PASSOS TRÔPEGOS
NA TRANSFIGURAÇÃO
DOS MURMÚRIOS EM GRITOS,
PARA DAR VOZ À LIBERDADE.
EMBRENHADA NOS ESCOMBROS,
DE UMA ESPERANÇA EXTINTA
E VIÚVA DE AMANHECERES.
LÁ ATRÁS, NOS TEMPOS DE ESTILHAÇOS,
NO LOMBO DOS NEGROS,
A FEBRE DA BARBÁRIE
FEZ ESCORRER O SUOR
E TROVEJOU SANGUE.
ARRANCOU DENTES DOS RIOS.
E FERIU A DOR.
COM OSSOS QUEBRADOS,
CONTAMINOU SONHOS,
ESPALHANDO NÓDOAS NOS SÓIS.
MUITA REVOLTA
PASTAVA NOS OLHOS
DA RAÇA NEGRA.
E EM SUAS VEIAS
PASSEAVAM
OURIÇOS DE CÓLERA
E IRA DE ORELHAS ENORMES.
QUILOMBOS POR ALFAMA,
REESCREVIAM A HISTÓRIA
COMO PEDRAS NAS SOMBRAS.
A RESISTÊNCIA E A MOBILIZAÇÃO
PARIRAM A ABOLIÇÃO.
CORTE DE MACHADO
QUE AINDA PAIRA NO AR.
ALFORRIA DE VENTO
QUE GARANTE O DIREITO
AO ETERNO SOFRIMENTO.
QUE ENGRAVIDA DE FOME
O VENTRE DO POBRE , DO NEGRO
E DO FRACO.
E HOJE, ENGRAVATADOS
OS DIREITOS TRABALHISTAS
CONTINUAM ATORDOADOS.
E O EMPREGADO,
ENTRANDO DE GAIATO
COMO POEMA RASGADO.
E O EMPREGADOR,
COM PULMÕES DE IMPORTÂNCIA
TIRA COELHOS DE SUA CARTOLA
NOS ELEVANDO A COISA NENHUMA
PARA MELHOR NOS VENDER NO MERCADO.