O EPITÁFIO DE CAMUS shellAHAvellar

Por entre vídeos, aquarelas, fotografias, pinturas, instalações interativas e toda espécie de manifestações artísticas da 29 Bienal de Arte de SP,finalmente me sento.

Sossego no tapete em homenagem a Camus.

Me sinto como se estivesse visitando seu túmulo.

E o epitáfio seria:

“Para por aqui, Albert Camus, personagem despreocupado da vida, sem aspirações para o futuro. Alguém que escreveu aquilo que realmente estava sendo vivido e pensado.

A revolta cultivou a  experiência que concretou meu sonho do “aqui e agora”.

A minha felicidade foi conquistada na parceria íntima com o absurdo – o vazio de onde tirei  sentido para preencher minha vida.

Quanto a vocês que ficam, se possível,descansem em paz.”

UMA IMAGEM VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS ? shellAHAvellar

Poderia me reportar ao quadro a quadro das  fotos,que vamos tirando ao longo do caminho.

Se montarmos cuidadosamente o filme das marcas e cicatrizes sulcadas em nossos rostos, palavras ou legendas são desnecessárias. Obrigatòriamente paramos para pensar.

Não nos damos conta de  quanto o relógio da vida marca em nossos órgãos ,em cada veia que pulsa.O moto contínuo das batidas dos nossos corações vai badalando nossas emoções por aí a fora, e vamos nos esquecendo de olhar no espelho de nós mesmos

Aliás este é o grande “barato da vida”:passa ,e a gente não vê.

Na verdade, no dia em que nascemos, começamos a morrer um pouco.

A cada aniversário, apesar das festas ,abraços e alegrias,estamos ficando mais velhos e também mais experientes no exercício de viver.

Porisso,  havemos de cuidar para ter bons guias no início da da jornada.Para aprendermos a caminhar sozinhos e livres ao encontro de nosso destino aqui no Planetinha.

As nossas fotos (3×4) nos darão os parâmetros da nossa viagem.Olhando-as de vez em quando, podemos avaliar a quantas andam nossas impressões e  expressões individuais e coletivas.

Podemos nos dar o direito de parar o bonde para refletir e melhorar nossa caminhada.

Nem sempre a saída está na auto- permissão de quebrar as correntes de nossos infernos astrais e terrenos.

A conquista da Liberdade! De renascer cada dia, conscientes de que, cada centésimo de segundo ,um flash de existência ,é único.

Para Marcello Martins,Um Velho  Homem Novo

VALE DO ANHANGABAÚ AO ANOITECER shellAHAvellar

Aqui estou num banco de praça no Vale do Anhangabaú. Cai a tarde. Um manto azul profundo cobre o dourado do sol que vai descansar.

À imagem e semelhança do paulistano, que parece desacelerar um pouco, para, em seguida, retornar seu ritmo alucinante.

As luzes, lentamente salpicam as praças, as ruas e prédios de formas cintilantes e fosforescentes, nos tons variados de luminescências que o branco pode ter.

As primeiras estrelas dão sinal de vida com faróis a piscar para olhos desprendidos do burburinho da metrópole.

Os arranha-céus se despem de sua imponência, quando suas dimensões gigantescas se transfiguram  em silhuetas que, em breve se diluirão na noite.

As árvores frondosas e verdejantes agora são fantasmagóricas. Algumas ameaçadoras, outras, sortudas, são contaminadas por algum tênue raio de luz artificial e dão o ar de sua graça.

A noite começa em São Paulo.

No entanto, apesar do barulho das buzinas, das riscas incandescentes dos faróis, há uma organização estabelecida neste caos aparente. Cada um sabe para onde vai e planejou. Ou não. Mudam de idéia no meio do caminho. Outros que não sabem para onde vão. Simplesmente se deixam ficar ali. Como mero espectador deste magnífico show de efeitos especiais, de escuro e claro, de movimento e estagnação.

Aproveito para escrever um postal para os  amigos  do RIO.

Aqui estou, galera!

Estrangeira na pátria amada. Salve, Salve, Sampa!

O azul profundo vai engolindo o meu  astro predileto. Sinto falta dos aplausos pros poentes cariocas. Cai a tarde. A noite vem. Os gigantes de mil olhos acendem suas íris. O cheiro de gasolina me impede o resgate do cheiro do mar. O barulho das buzinas abafa o ruído das ondas que se quebram na minha memória.

Mas, fecho os olhos. Encaro o céu e deixo rolar. As estrelas me mostram o caminho de casa..Vim para ficar…

TRAZIDO PELA LUZ DE COXIXOLA shellAHAvellar

Criado sem escola, alfabetizado pela vida. José Alves Apolinário, codinome Jurandir, por causa da morte do primogênito de Sebastião e Inácia, morto um ano antes do nascimento do personagem principal deste roteiro. Assim, sua história já carrega certo mistério, em momentos de realidade fictícia, em que o tempo não é nem linear, nem rápido, nem lento, nem circular, mas parece haver se volatizado em Coxixola, município do interior da Paraíba, a 247 quilômetros da capital, João Pessoa, nos anos 1950, quando Jurandir botou a cara neste mundão de meu Deus.

O nome, de origem tupi-guarani, que significa “trazido pela luz do céu”, parece justificar a apropriação do nome do irmão e o enterro, como ele mesmo diz, do “Zé em seu lugar, registrado no cartório de Deus”.

Cabelo preto, liso e comprido. Porte ereto. Olhar de um brilho intenso em noites abissais. Fala mansa. Um tanto tímido, mas decidido. Não se sente, nem busca ser melhor, nem pior que ninguém. Parece índio. Se diz índio. É um índio.

Infância a lenha

Os dias se passavam em Coxixola, numa época sem as modernidades da eletricidade, numa casa de taipa e pau a pique. O fogão a lenha, de duas bocas, fumegava ao alvorecer. O milho cozido, o xerém (cuscuz de milho), o curau e seus derivados e a coalhada de leite de cabra eram os acepipes da família, que madrugava para ir à roça garantir o sustento.

O almoço era feijão com farinha, que lhe conferiu a estrutura que o mantém saudável e forte até hoje. De vez em quando, mas muito raramente, tinha carne de bode ou de carneiro, mas arroz nem pensar. Era artigo de luxo. Só no Natal.

Algumas vezes, caçavam codorna, tatu e lagarto para dar um colorido diferente à rotina.

No entardecer, de volta para casa, repetindo o cardápio do café da manhã, o avô índio João Apolinário enriquecia o imaginário da criançada com histórias de cangaceiros, acumuladas em seu passado nativo de tribo desconhecida de Jurandir, traindo a memória, que o tempo, seu grande inimigo, vai destruindo.

Em volta da fogueira, nas noites iluminadas pelo céu estrelado do sertão, o avô mastigava raízes, macambira e coco. Fiel à tradição indígena, embalava os sonhos que nasciam nas camas de madeira com colchão de palha de banana, construídas por eles mesmos.

A infância corria solta pelo mato, nas brincadeiras de senhorio, traduzidas pela cultura coxixolense. Se inventava curral de pedras, onde se juntavam os ossos que simbolizavam os bois, as vacas, os jumentos e os jegues negociados ao dinheiro de papel de cigarro, ao qual se atribuía valores de moeda corrente no país naquela época. Continental a 5 cruzeiros, Hollywood a 2 e Astória a 1.

Num capitalismo de cordel, já se revelava o futuro empreendedor, marca dos nordestinos que avançam na cidade grande. Sonhava com o poderio das famílias de fazendeiros, que davam o “ar de sua abastança” no povoado local. Famílias que hoje ainda se aboletam por lá, em cargos municipais vitalícios, garantidos pelo mesmo nepotismo de outrora.

Quando os bichos e os moleques se feriam, tomavam o caxete (comprimido) de cipasol, melhoral e meramicina para tirar o aperreio das dores em geral. Mas quando o caso era traquinagem de torar um braço, tinha mesmo de chamar Dona Chiquinha, a benzedeira. Por causa disso, certa feita, moleque, Jurandir recorreu à rezadeira, que fez uma pasta de clara de ovo e carvão em cinzas, que amarrava com casca de cajueiro, e todo dia botava trouxinha do emplastro com panela de água quente no machucado. Costurava e regava com uns galhinhos. Orgulhoso, hoje exibe o braço, sem nenhuma sequela. Ele reforça: “A fé cura a gente”.

Os dentes eram arrancados sem anestesia pela mãe, o que lhe garantia uns quatro dias de repouso para amansar a dor. A pasta de dentes era a raspa de juazeiro e a escova, o dedo.

As investidas nos jogos de amor começaram cedo, de 9 para 10 anos, no mato, onde a meninada praticava a sem-vergonhice própria das funções varonis. E se esquentava à noite, de óleo de coco no cabelo, no arrasta-pé azuretado, ao som do forró “pé de serra”, tradicional do sertão, com sanfona, triângulo e zabumba.

Só tinha de cuidar de não tirar a virgindade das moçoilas. Ou casava, ou o cabra era jurado de morte. E também tinha de casar, preto com preto, branco com branco, rico com rico e pobre com pobre. Se saísse desta dobradinha imposta pela tradição, o cabra estava lascado.

O rádio assumia a responsabilidade de traçar formas e conteúdos do mundo lá fora. E a “Hora do Brasil” mantinha o povo muito bem “informado”. Pelo fio tênue do onírico exalava o som de Luiz Gonzaga e Genival Lacerda. Teve até show ao vivo numa difusora instalada num jipe.

 

O último pau de arara

Os dias corriam plácidos e horizontais. Então, deu aquela vontade de ganhar o mundo, conhecer novas terras. Essa inquietação fez Jurandir, já moço feito, aos 20 anos, sacudir a poeira de Coxixola e pegar o pau de arara para o Rio de Janeiro.

Ficou uma semana em Botafogo, na capital, mas sua alma de índio o levou para São Pedro da Aldeia, antes que o vazio da vida moderna se instalasse de vez em seu âmago.

Trabalhou na lavoura, por cinco anos, plantando mamão, laranja, limão e fruta do conde, numa fazenda a trinta minutos da cidade. Depois mudou-se para lá, onde trabalhou, por quatro anos, como padeiro, com carteira assinada. Aí, animado, diz que aprendeu a viver. Até então, não tinha noção do que era.

Voltou para Coxixola. Passou dois meses e regressou de vez, direto para São Paulo. Ficou na casa de um amigo em Cangaíba, na zona leste, e trabalhava numa padaria na Vila Mariana, na zona sul.

Depois, noutra no Brooklin, também na zona sul. Investiu então em duas linhas telefônicas. Um negócio da China. Vendeu e comprou este barzinho, principal locação deste roteiro, que abriga sua história e sua vida.

O CD-Bar de Jurandir

Sempre gostou de música. Começou tocando forró, depois brega sertanejo. Hoje tem amplo acervo em seu bar, do qual perdeu a conta exata, com mais de cinco mil títulos de CDs e DVDs nacionais e internacionais, de todos os estilos.

Pelo CD-Bar já passaram Luiz Airão, Bruno & Marrone, Miltinho (Baterista do Jô), Rubinho do Zimbo Trio, entre outros que vão lá à guisa de pesquisa de sons.

O Bussunda, do “Casseta & Planeta”, batia ponto na feijoada de sábado. Deixou saudades no cenário nacional e na mesa cativa do CD-Bar.

Aqui se misturam classes de A a Z, que desfilam, todos os dias, em busca de novos arranjos, ritmos, balanços, tenores, barítonos, sopranos, harmonias e linhas melódicas.

Os professores e alunos da Escola de Música Tom Jobim se revezam e volta e meia estacionam no CD-Bar. Tem dia que vende até 100 CDs, para clientes variados.

Tem gente que vem há mais de 20 anos, para o lanche, o salgadinho, o almoço, a cerveja, o café ou o papo amigo para abstrair da correria.

É distribuidor juramentado de grandes distribuidoras, como a Universal, a Estação CD e a Atração. Atende pedidos pelo telefone e pessoalmente. Continua pesquisando. Observa e aprende com os clientes. E vai trazendo o que o povo pede.

Depois de um relacionamento de 20 anos, do qual herdou dois filhos, com quem, infelizmente, hoje não mantém contato, inaugurou outro romance. Wania, pernambucana arretada, veio chegando de mansinho para o cafezinho de todo dia. E deu-se o encontro. Já há 15 anos, com mais dois filhos, Lucas e Sue Ellen. Tem muitos amigos na casa própria, perto do Terminal João Dias, ali na zona sul, que engrossam a família. A rotina é de casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Três vezes por semana, vão à Igreja Universal, depois que Jurandir fecha a loja-bar. Nos fins de semana, o destino são as churrascarias e os shoppings. De vez em quando, um show de Zezé Di Camargo e Luciano. Viajam às vezes, nas férias, apenas por quatro dias, e voltam correndo para o bem do negócio.

Jurandir diz que, se tivesse vindo mais cedo para São Paulo, seria um homem muito rico. Tal qual seu pai, que largou tudo para trás, foi para Minas Gerais, constituiu nova família e se perdeu de Coxixola e das raízes.

A felicidade, conquistada no exercício de uma vida simples, é exemplo de harmonia e tranquilidade. Seres fora do comum dentro da sua maneira de ser comum.

A vida impôs aos CDs e DVDs valor também sentimental, espécie de dignidade humana. Fórmula talvez derivada do romantismo de sua adolescência.

Ao som de “quando eu estou aqui, eu vivo este momento lindo”, na voz de Roberto Carlos, me despeço, com a cabeça cheia de ideias e com a certeza de voltar a qualquer momento para uma pausa na utopia, desdenhosa de realidade, ao pé do balcão do CD-Bar de Jurandir.

ttp://www.jornalirismo.com.br/jornalismo/14/1209-trazido-pela-luz-de-coxixola

O MANTO NEGRO shellAHAvellar

Quem de nós consegue admitir seu lado sombra ?

Assumir a  causticidade da nossa verdadeira personalidade?

Suas mesquinharias, ainda que dissimuladas se exercitando lá no fundo,qual felino observando sua presa prestes a dar o bote?

Pensamentos tenebrosos vêm bailar sedutores, incitando a discórdia, promovendo a desconfiança e acendendo a ira.

Quantas vezes quantos de nós se agachou ,   à semelhança dos répteis,para ficar invisível e planejar uma vingança lenta e friamente??

Quantos sorrisos amarelos esconderam pérfidas maquinações em relação ao outro?

Quantos tapinhas nas costas se  revelaram tão venenosos a contaminar nossos melhores sentimentos?

Quantos apertos de mão destilaram o óleo da desgraça na intenção de destruir o outro?

Um próximo mais próximo , ensandecido, mal intencionado, provoca reações inimagináveis em nós . Nos  pegamos vítreos,emitindo dardos em sua  direção porque ele nos ignora.Ignora nossa solicitude.Ignora nossa solidariedade.Ignora nossa disponibilidade.

E,assim,vamos embebedando a nós mesmos,gota a gota,preenchendo o nosso cálice de cólera e nos infernizando para a revanche.

O que há em nós de tão terrível, que dissimulamos tantas emoções para nos mantermos politicamente corretos ?.

Que monstro adormecido é este que despertamos como um vulcão ameaçador em vias de  lançar suas lavas incandescentes que vai  endurecendo de basalto as possibilidades de conciliação?

Não nos interessa o estrago, somente a explosão pirotécnica a vociferar palavrões ,descalabros e ofensas inimagináveis.

Nosso semblante se altera qual máscara veneziana que encarna o Mal.

Quem é este ser tumultuado e bisonho que se apresenta  quando em vez  e se apossa de nós emitindo labaredas incomensuráveis e por vezes imperdoáveis??

Quem és tu?  Quem sou eu?  Quem somos nós?

Escravos da Inveja.  Do respeito humano. Do não levar desaforo pra casa. Do azedume do “Day after”.

Soldados de um exército sem nome e sem lei- O ódio  ,cujo manto negro nos envolve , espalhando  seus raios na surdina e espargindo dor para todo o lado.Na família.Na rua .No trabalho.Na vida.

Basta!   Que venha a Paz!

MARILYN SEM RETOQUES shellAHAvellar

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A WEEK WITH MARILYN

Uma mulher cheia de grandes recursos. Esbanjando  volúpia e derramando inocência.

Seus olhos grávidos de afeto pousaram lânguidos em Colin Clark, um terceiro assistente de  Olivier, um menino cuja pureza encontrou ressonância vibrando em sintonia com seus melhores sentimentos.

Este, todavia não se deu conta do fogo-fátuo que era para ela. Apesar dos avisos, se deixou embalar pelo seu doce canto de sereia.

Ainda assim, Colin sempre foi muito generoso com ela .E sua generosidade foi identificada pela Diva.

Sua instabilidade emocional e sua baixa autoestima contrastavam com sua popularidade. Consumindo pílulas de ilusão para alcançar um equilíbrio que mais se assemelhava a um caminhar sobre gelo fino.

A insegurança era a tônica do Estúdio Londrino. De um lado,  Sir Laurence Olivier, O Príncipe dos Palcos ,por conta da idade avançada, do talento consagrado como ator de teatro, frente à beleza ,ao carisma e a naturalidade com que Marylin flertava com as câmeras. De outro, o medo de  Marylin por contracenar com monstros sagrados que a adulavam ainda que a considerassem “menor “, até se renderem a seu talento inato para o Cinema.

Marylin era isto: uma concha de madrepérola, que sutilmente deixava escapar o barulho do mar e o arrulho das gaivotas, numa imensidão de azul profundo que hipnotizava e maravilhava, mas havia que ser cuidadoso para não se deixar tragar por este maremoto.

Infelizmente mais tarde, aos 36 anos, ela mesmo se deixaria afogar ,deixando o mundo atônito com o seu desaparecimento no auge de sua carreira.

Assistir a este filme é uma doce aventura, que considero uma verdadeira homenagem à Marylin, mostrando suavemente seus contornos físicos ,mentais emocionais e espirituais, sem aviltá-la nem exaltá-la , mas tornando-a mais próxima de nós, na qualidade de simples  mortal .

http://www.cinepop.com.br/filmes/semana-com-marylin.php

Sete Dias com Marilyn‘ é inspirado no livro escrito por Colin Clark, ‘The Prince, The Show Girl and Me: Six Months on the Set with Marilyn and Olivier

 

Elenco: Michelle Williams, Kenneth Branagh, Emma Watson, Judi Dench, Eddie Redmayne, Dougray Scott, Julia Ormond, Dominic Cooper, Derek Jacobi.
Direção: Simon Curtis
Gênero: Drama
Duração: 100 min.

 

 
Distribuidora: Paris Filmes