AUÊ.BANDA.NÓS. Shellah Avellar

Povo- Silkscreen sobre chita(2.00x 1.45) Squeff

A lenda de Ariadne, filha de Minos, rei de Creta, conta que ela ajuda Teseu, a sair do labirinto do Minotauro, seguindo um novelo de lã, o “fio de Ariadne”.

Fio de Ariadne, nos permite seguir os vestígios das pistas no inesperado, ordenando a pesquisa, até que se atinja um resultado. O elemento chave para aplicar a linha de Ariadne a um problema é a criação e manutenção de um processo que permita regressar, ou seja, fazer um backtracking.

Backtracking é um algoritmo que representa um refinamento de busca em profundidade.

Agora, por mim denominado AUÊ DE CARNAVAL.

Que não me ouça, o matemático Derrick Henry Lehmer.

Como por aqui, a ordem é subverter, começamos assim:

O jornalista Sergio Gomes, articulador da porra toda, ao sugerir a pauta sobre este acontecimento histórico, e aparentemente “inocente”, me deu o fio e me jogou no labirinto de lembranças, informações e histórias de pessoas lindas. Uma emanação da vontade de estarmos juntos amenizando as dores que nos foram infligidas por celebrarmos liberdades.

Agora não me resta nenhuma solução a não ser “escrever sem moderação”.

Do NAÏF ao HIPER-REALISMO

Em 1 de setembro de 1977, o escritor e jornalista Lourenço Diaferia, publicou a crônica HERÓI. MORTO. NÓS. na Folha de São Paulo.

Folha Online – Folha 80 anos – Tempos Cruciais (uol.com.br)

Diaféria, até então, era considerado pacato, porque imprimia em seu texto universos inquietantes em furiosas brechas de sol, com sua linguagem simples e humor cativante. Um expressivo representante da literatura pós-moderna brasileira. Chegou a ser taxado de Naïf, por Boris Casoy, seu editor na época, que lhe atribuiu o apelido por seu estilo ingênuo.

Acontece que todo Naïf tem um dia de Hiper-realismo.

Ao tomar conhecimento de que o sargento, Silvio Delmar Holenbach, Militar do Serviço de Intendência do Exército, morreu, após salvar um garoto que havia caído em um poço de ariranhas no Jardim Zoológico de Brasília, desencadeou-se nele, um sentido de urgência. Destes, que faz borbulhar nos nervos, a poética da revolta. Onde, se tenta digerir os restos de valores mortos.

Não dava para desviar os olhos. E, o cronista, observador privilegiado da cena, com sua pena, à guisa de microscópio, apontou a virulência.

No olho do furacão dos anos de chumbo, vomitou sua indignação:

“E, todavia, eu digo, com todas as letras: prefiro esse sargento herói ao Duque de Caxias. O Duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal”.

Foi o estopim, para ativar a verve sanguinária da repressão e seus asseclas. Não vou citar os nomes, porque aqui só damos créditos aos heróis.

Foi preso em 15 de setembro e solto cinco dias depois. Mas, só conseguiu provar sua inocência em 1980.

Em desagravo, a folha de SP, publicou a coluna dele em branco e os amigos da agência Folha, Jorge Araújo, Sergio Gomes e José Vidal Pola Galé criaram um bloco/passeata NÓIS SOFRE MAS NÓIS GOZA, que desfilava em “ELE”( letra L de Lourenço e  de  Liberdade),no centro da cidade – do monumento ao Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel, seguia pela Avenida Rio Branco e Avenida Ipiranga, até chegar ao Bar Redondo.

Havia uma certa apreensão no ar, por conta do assassinato do jornalista   Vladimir Herzog em 1975, o que repercutiu na Comunidade de Jornalistas e na família de Lourenço.

Entrevistamos Geiza Diaféria, esposa de Lourenço, 46 anos depois.

Qual foi o impacto emocional no Lourenço Diaferia, pós-prisão pela repressão em 1977?

Lourenço era uma pessoa com valores muito sólidos. A prisão foi um percalço, o que não o impediu de continuar a expressar sua visão da cidade e do país, mostrando as injustiças, as feridas do povo trabalhador e da cidade, talvez se utilizando mais do recurso do humor em algumas crônicas para que elas fossem mais “palatáveis” a determinados leitores.

Como repercutiu em você? E na família?

Senti uma profunda decepção por ver tamanha ignorância, com uma prisão totalmente sem fundamento, tendo que cuidar de 5 filhos na época, sendo 3 adolescentes e 2 crianças. Os filhos mais velhos já entendiam o que estava acontecendo e ficaram indignados. Os mais novos, embora não entendessem a situação, sentiam a ausência do pai, que era bem presente.

Mudou o comportamento dele como pessoa e como cidadão?

Lourenço continuou a mesma pessoa. A única coisa que ele falou foi “eles não entenderam o que escrevi… Pena!”

Como você definiria numa frase, este acontecimento?

Um momento triste da história em que a ignorância e a violência, sob a égide de ordem e progresso, um cidadão comum foi injustiçado, porque expressou um sentimento comum a muitos que não tinham voz.

Três palavras que traduzam o fato pra você como mulher dele:

Ignorância, insensibilidade e violência.

Ele relembrava a situação? Ou arquivou?

Não gostava muito de relembrar, mas, frente à repercussão do ocorrido, vez ou outra se via obrigado a responder e esclarecer situações relacionadas ao período.

Como se sente ao saber da festa, Auê de Carnaval, 20 de fevereiro, que remete ao acontecido em setembro de 1977?

É muito importante relembrar o que aconteceu no passado para que não se repita mais. E o Carnaval, como identidade do nosso povo, é a melhor forma de confrontar a ignorância.  Acabamos de ter uma pequena amostra de que ainda há muita ignorância nos rondando.

A origem da palavra AUÊ, por si só já é controversa:

Alvoroço. Confusão.Tumulto.

E, em língua africana ioruba, significa “Meu Amigo”.

Ora! Ora! Nada mais pertinente do que um Alvoroço de Amigos.

E, assim, na Praça Vladimir Herzog, durante um dos encontros em homenagem póstuma a Elifas Andreato, que dá nome ao Espaço Cultural a Céu Aberto, o jornalista e artista plástico Enio Squeff, sugeriu a realização de um AUÊ de CARNAVAL, resgatando o bloco NÓS SOFRE, MAS, NÓS GOZA em sua mais completa tradução.

Em seguida, o jornalista, publicitário e escritor Liber Matteucci, “de lá do lado, do lado, do outro lado, do lado, lado de lá ”, em terras de nossos “colonizadores” (ou invasores?),  sugeriu a contratação da Banda Operária da Lapa.

Foi marcada a data:20 de fevereiro, segunda, às 17H.

E, daí, do tempo espasmódico das rebeliões, emerge um estado latente de “comunhão”, travestido num clamor pela alegria. Sugestões, talvez, sussurradas aos seus ouvidos, pelos Magos da Subversão, que deixaram entreabertas, as portas de resistência inabalável.

E, então, como um epitáfio às avessas, honramos nossos companheiros de copo e de cruz, para sempre “presentes”.

E está institucionalizado o AUÊ DE CARNAVAL.

A Corporação Musical Operária da Lapa é uma comunidade musical amadora nascida no final do século XIX. Mistura-se à história de São Paulo, composta pela  classe operária: mecânicos, metalúrgicos, eletricistas, frentistas, bancários, militares e professores, que, ajudaram a tecer sua trajetória impregnada de simbolismos. Enriquecida com a imigração, principalmente italiana, e com a  construção das linhas e oficinas da São Paulo Railway Company.

É qualificada por seus músicos como sendo “a banda mais antiga de São Paulo”. O grupo possui sede própria tombada pela prefeitura de São Paulo, em terreno doado por Nicola Festa.

O que torna uma comunidade musical legítima, é sua capacidade em servir uma determinada localidade. Portanto, a Corporação Musical Operária da Lapa, se estabeleceu gradativamente em um espaço que oferece possibilidades de comunicação e sociabilidade entre seus integrantes e o público.

Segundo o jornalista William Finnegan, “o sentimento de pertencimento a um mundo distinto e integrado, herdeiro de uma tradição orgulhosa e independente, foi reforçado ainda mais pela continuação da longa tradição de bandas de música que desempenham uma função pública para a comunidade local”.

A primeira fase do grupo, um período dúbio, justamente pela carência de informações e a falta de registros, compreende sua fundação e se estende até a fixação do nome “Corporação Musical Operária da Lapa” em 1914.

Este período foi, para o grupo, uma fase marcada pelas intrincadas tentativas de se estabelecer como banda operária remunerada.

Seus primeiros nomes (Lyra da Lapa, Banda XV de Novembro e Banda dos Empregados da SPR), a grande influência italiana através de seus integrantes e singularmente o fato de estar entre as dezenas de bandas e grupos operários de São Paulo expressa que o conjunto foi um produto de seu tempo.

De acordo com a documentação recente da banda, depoimentos, algumas matérias de jornais, os livros de Hardman (2002, p. 371)17, Moraes (1995, p. 157)18 e Santos (1980, p. 81)19 e também de páginas da web, o aparecimento da CMOL é atribuído ao pianista e professor italiano Luigi Chiaffarelli (1856-1923).   *Dados extraídos da tese de Juliana Soares da Costa UNICAMP

No entanto, essa informação é indefinida.

Franco Cenni, casado com a neta de Luigi, relata que Chiaffarelli e  família vieram para o Brasil em 1880 a convite de um grupo de fazendeiros de Rio Claro, a fim de ministrar aulas de piano às filhas de fazendeiros do café. Contudo, Chiaffarelli permaneceu em Rio Claro por pouco tempo e regressou à capital em 1888.

Para esta questão, é necessário nos remetermos ao antropólogo Paul Connerton e sua noção de memória social:

Como as sociedades recordam?

Como é que a memória dos grupos é transmitida e conservada?

“As lembranças grupais se apoiam umas nas outras formando um sistema que subsiste enquanto puder sobreviver a memória grupal”, ressalta a psicóloga Ecléa Bosi.

Ao longo da observação participativa e do manuseio de documentos e reportagens, vimos a banda se reconhecendo como fundada em 1881. Como mencionado, é uma informação perpetuada pelo conjunto por toda sua existência, e ao redor disso criou-se uma narrativa – ou uma “mitologia” – tornando-se uma marca de orgulho para a banda, ter sido fundada por Luigi Chiaffarelli em 1881.

Neste caso, podemos sugerir que alguma performance de banda no bairro da Lapa, em 1881, formada por operários músicos com algum contato próximo a Chiaffarelli, mais tarde faria parte da Corporação, marcando assim a fundação do grupo.

Nossas experiências do presente dependem em grande medida do conhecimento que temos do passado e as nossas imagens desse passado servem normalmente para legitimar a ordem social presente. E, assim, são transmitidos e conservados.

Portanto, a memória social não necessita comprovação: ela é aquilo que as pessoas lembram e que continua a ter relevância no presente, perpetuando-se.

A memória é um espaço onde as esferas biológicas e socioculturais do ser humano se encontram e, ao serem integradas à vida em sociedade, adquirem significados.

A figura de Chiaffarelli e a data de 1881 indicam para os integrantes a importância da banda e trazem um capital simbólico para o grupo, além do sentimento de compromisso com a continuidade da banda.

Luigi Chiaffarelli

Talentoso Pianista, Maestro e Professor, admirado pelos seus alunos, criou em São Paulo uma escola de interpretação musical que persiste até hoje através de seus discípulos.

Passaram por suas mãos, Guiomar Novais, Antonieta Rudge, Maria Edul, Francisco Mignone e Guilhermina de Freitas, entre outros.

Sua filha, Elisa Hedwig Carolina Mankel Chiaffarelli (Liddy Chiaffarelli) casou-se com Paolo Agostino Cantu, com quem teve dois filhos, Elza e Bida.

Liddy, casada pela segunda vez com o Maestro Francisco Mignone, pertencia à sociedade paulistana e tinha sólida formação musical e revolucionou a prática de iniciação musical. Aliou-se a Mario de Andrade na semana de 22, e com seu marido, fazia apresentações em favelas no Rio, com recepção bastante entusiástica. Uma Escola Pública em Paty do Alferes, RJ, leva seu nome.

Seu bisneto, Roberto Cenni (filho de Elza Cantu Cenni e Francisco Cenni), desconhecia a existência da Banda Operária da Lapa. Mas, me enviou uma carta em homenagem ao bisavô, oriunda da Comunidade de Cercemaggiore, cidade natal de Luigi, datada de 06.08.2022, onde apontam o pai de Luigi, Olympio, como maestro de bandas e orquestras, em sua região, o que comprova seu DNA.

Ele declara sobre o bisavô:

Luigi Chiaffarelli veio ao Brasil patrocinado por famílias ricas de Rio Claro e desenvolveu uma importante escola pianística bastante conhecida. Porém este outro lado de promover bandas de operários é bem pouco divulgado. Creio que proporcionar o encontro de “pessoas simples” com a música num país essencialmente capitalista é uma bela atitude e orgulho-me de Luigi ter tido esta iniciativa.

Franco Cenni, Elza Cantu Cenni(neta), Liddy Chiaffarelli (filha), Anna Maria ,Mario Cenni
e Roberto Cenni(bisnetos de Luigi Chiaffarelli) 1958

Acervo Folha SP registro de falecimento do Maestro Luigi Chiaffarelli há 100 ANOS

A formação atual da Banda Operária da Lapa


A Corporação Musical Operária da Lapa ainda se mantém ativa contando com diretoria, regente e estatuto próprios. Foi registrada formalmente como uma associação privada em 1972, e desde então é mantida graças ao caráter voluntário do trabalho de seus membros.
A banda era restrita apenas aos músicos homens, mas, no final dos anos 70, começaram a aceitar mulheres.

Ieda Viera de Figueiredo, trompetista.

É o único elemento feminino da Banda, neste momento.

Professora e agente de saúde. Já tocou na Banda de Osasco. Fez parte do coral da Cultura Inglesa. Já integrou a Banda Operária da Lapa, há alguns anos atrás. Mas, retornou há um ano. Apesar de ser a única musicista mulher da Banda, deixa claro que foi muito bem recebida. Segundo ela, são pessoas maravilhosas. E garante que se sente feliz com a mesma intensidade de quando tinha 20 anos.

Jose Maria Tamburu, sax tenor

Entrou na banda aos 18 anos, e a preside há 15 anos. Diz que todos os momentos têm sido memoráveis, mas, sente a ausência de seu pai, o trompetista João Tambor, que lá tocou por 30 anos. Se ressente da falta de apoio do poder público, para a manutenção das instalações, dos instrumentos, infraestrutura básica e apoio a novos projetos.

Maestro Nestor Avelino Pinheiro

Segundo o maestro a Juventude não tem interesse no estilo de música que as bandas tocam.

“Talvez se houvesse um projeto de Escolinha de Bandas, poderíamos tentar despertar o entusiasmo na molecada.”, sugere Nestor Avelino.

Trompetista, acabou virando maestro, a convite do pessoal da Banda. Nascido em Nazaré Paulista, seguia a banda e gravava as músicas durante as apresentações nas festas locais. Aos 50 anos de idade começou a aprender música.

Acabou entrando na Banda Operária da Lapa e está lá até hoje.

Para ele, a banda por si só já é um acontecimento.
“É minha vida “, finaliza emocionado.

BANDA OPERÁRIA DA LAPA

Aqui jaz a aproximação elíptica de seres ímpares que se amarram em nós, para se definirem como NÓS e libertar os pássaros da Alegria e da Camaradagem em NóS.

Vlado Diaféria Elifas

JORGE ARAÚJO

Fotojornalista autodidata, começa a fotografar em meados dos anos 60, trabalhando desde 1973 para o jornal Folha de S.P. É um dos grandes nomes do FotoJornalismo do Brasil, tendo documentado quatro Copas do Mundo (1978, 1982, 1986 e 1998), diversos outros eventos esportivos, como corridas de fórmula Indy e a Copa das Américas, bem como viagens e campanhas presidenciais e outros importantes eventos políticos.

Compositor do samba Nós Sofre mas Nós Goza, Jorge Araújo é um sorriso largo que inunda o mundo com suas lentes precisas para tirar dos fatos seu melhor momento. Mistura insolências e travessuras legitimamente conquistadas com afeto.

https://clipchamp.com/watch/f3f7I06c7M8

NÓIS SOFRE MAS NÓIS GOZA

A gente canta o sofrimento

Em verso ou prosa

Nós sofre, mas nós goza

Nós sofre, mas nós goza

Ai, que delícia

Tenho andado neste bloco-passeata

Pra lembrar Lourenço Diaféria

Nesta praça

E o que me resta

É o grito bem gritado

Meio troncho de saudade

É tudo o que me resta

Me espanca com o pandeiro

Me agride com a cuíca

A gente canta o sofrimento

Em verso e prosa

Nós sofre, mas, nós goza

Ah que delícia!

JOSÉ VIDAL POLA GALÉ

Mais conhecido como Pola Galé. Nasceu em Marília, no interior de São Paulo, no dia 6 de dezembro de 1952. Filho de espanhóis, tem memória de muitas histórias da Espanha, inclusive da Guerra Civil Espanhola, já que seu pai participou. Morou durante um semestre em Tauste, região em que seus pais nasceram. Mudou-se para Ribeirão Preto e foi lá que ele estudou e cresceu, foi pra São Paulo para fazer faculdade de jornalismo na USP e começou a trabalhar por lá. Trabalhou na redação da Gazeta Esportiva, na Folha de São Paulo, Editora Abril, TV Globo, Record e TV Cultura.de jornalismo da TV Cultura. Com mais de 30 anos de profissão e se tornou um dos nomes mais respeitados no telejornalismo brasileiro.

ÊNIO SQUEFF

Jornalista e artista plástico, teve a ideia de fazer acontecer na praça este Auê de Carnaval em homenagem ao Lourenço Diaféria.

Extremamente versátil, Squeff é um dos grandes nomes da Arte Brasileira, trabalhando com a renovação da tradição pictórica e abordando uma gama variada de temáticas, sobretudo aquelas consideradas relevantes para a cultura brasileira e, em especial, a paulistana. É reconhecido internacionalmente por suas ilustrações de obras literárias.

Em seu portfólio encontramos ilustrações, aquarelas, pinturas, xilogravuras, vitrais, painéis, entre outras linguagens.

Desafiou-se, confeccionando em exíguo tempo, 15 estandartes (1,45 x 2,00) m2 de pintura e impressão silk-screen sobre chita, sendo 12 móveis e 3 fixos.

O tecido chita, foi escolhido propositadamente por Scheff, não somente por seu baixo custo e fácil manuseio, mas, por ser um verdadeiro ícone da cultura popular brasileira.

LIBER MATTEUCCI

Jornalista, lecionou Redação na PUC-RJ. Publicitário no eixo Rio/SP e em Lisboa. Diretor de Criação da Agência da Casa da Rede Globo-RJ e Tele Monte Carlo em Roma. Escreveu textos de humor para revistas, roteiros de HQ e colaborou no Pasquim. Em 2011 publicou o romance “Sangue Bom” (finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2008), “O Espírito da Coisa” e mais três livros. Hoje, dedica-se inteiramente à carreira de escritor.

Apesar desta biografia recheada de feitos estrondosos, Liber é um homem simples, sensível, talentosíssimo e solidário, e aí reside sua força hercúlea em se reinventar. Uma obra de arte que tende a maravilhar as pessoas ainda que à distância.

Típico de uma pessoa que se provoca e busca outros caminhos, começou a aprender clarinete aos 50 anos. Tocou na Banda Amigos do Castelo Novo, em Portugal, de 2001 até 2011. E, ao voltar para o Brasil, se ofereceu para tocar na Banda Operária da Lapa e foi amplamente aceito. Por lá ficou por 3 anos.

Ele sugeriu a contratação da Banda para o AUÊ, e, para isto, ressuscitou em si o menino ávido por aprender e revelou o homem grato. Que beleza de pessoa.

Painel de azulejos presenteado pela sua mãe quando integrava a Banda Castelo Novo, Portugal.
Liber Matteucci é o quarto da esquerda para a direita.

OSWALDO LUIZ COLIBRI VITTA

Está na estrada do jornalismo há 45 anos. Já trabalhou nos principais jornais brasileiros: Diários, Folha de São Paulo, Estado e O Globo .E emissoras de TV: SBT, Record, Bandeirantes e Globo. Começou no rádio como produtor do Studio Free, em 1976. Foi repórter e chefe de reportagem na Rádio Globo e Record. Há quinze anos trabalha em projetos de comunicação dos trabalhadores. Foi apresentador do Jornal Brasil Atual . Em 2017, ganhou o prêmio APCA com o programa musical “A Hora do Rango”. Hoje dirige a Rádio Brasil Atual, 98,9 FM. 

Apesar do lastro curricular e promover revoluções artísticas por aí afora, Oswaldo se expressa através da alegria. Tudo nele é movimento. É ritmo.

Não por acaso seu apelido é Colibri, que ele assina como sua identidade maior.

Me falou com orgulho da fábula do Colibri, que descreve um grande incêndio na floresta e os animais fogem. Mas, o colibri, voava até o lago mais próximo e regressava com uma gota no bico. E, aos críticos, ele dizia estar feliz de fazer sua parte.

Colibri, faz, com profissionalismo e solidariedade, a curadoria dos artistas e músicos da Praça Vladimir Herzog  e do Centro Cultural a Céu Aberto, desde que Elifas Andreato nos deixou. Arregimenta talentos que se apresentam gratuitamente, porque apostam em sua seriedade e em seu compromisso com a qualidade.

E, arrisco aqui, que me perdoem os ateus, a exaltar a sua ternura, com outra lenda guarani: acreditam que o Mainimbú(Colibri) tem um dom especial de coletar o melhor dos que se foram e levá-los para o céu, em seus delicados bicos. Creio que Elifas Andreato e Vladimir Herzog estão gratos por isto.

Alguns eventos já realizados no Centro Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato, que tem acontecido na Praça Vladimir Herzog. Confiram!

SAMIR SALMAN

Médico, administrador e idealizador do Hospital Premier – Grupo MAIS, que é o primeiro hospital privado do Brasil norteado pelos cuidados paliativos.
Gestor da São Paulo Internações Domiciliares, reconhecida hoje, como uma   das mais respeitáveis empresas do segmento de Home Care.

Dentro do Grupo MAIS, Modelo de Atenção Integral à Saúde participou na gestão de planos de saúde, equacionando recursos e controlando carteiras com ferramentas de monitoramento e medicina preventiva.
Ativista ferrenho  de  frentes que defendem políticas públicas ligadas ao envelhecimento e aos cuidados paliativos.

Todo AUÊ precisa de um porto seguro, para que os amigos possam ser cuidados condignamente, quando atingem a margem fronteiriça da vida.

Samir, “companheiro falante”,(em árabe), curiosamente “silencia”, mas, observa e se movimenta, para que os detalhes pragmáticos sejam providenciados e o AUÊ aconteça. Assim como o jurista e médico AVERROES, autor de A Destruição da Destruição (ou A Incoerência da Incoerência), Samir enxerga o paradoxo inerente às cabeças brilhantes dos anciãos e seus corações-meninos.

SERGIO GOMES

Jornalista .Em 1978, fundou a OBORÉ EDITORIAL. Desde 1994, é seu diretor titular. Lecionou na USP: Jornalismo Sindical, Comunitário e Popular de 1986 a 1992.E atuou na imprensa sindical. Atualmente, integra o Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog e coordena o Projeto Repórter do Futuro. Acumula prêmios nacionais e internacionais como jornalista e defensor de Diretos Humanos. OBORÉ Projetos Especiais (obore.com)

Serjão, é muito mais que um tratado curricular. É um moto-contínuo. É a causa e o efeito. É o indivíduo e sua potencialidade criativa em juntar pessoas e colocá-las frente à sua própria grandiosidade. É nessa busca por unificação que nos comove em sua constante reverência pela amizade.

Sua experiência de vida que lhe levou ao limite da resistência física, em que o corpo foi levado à última armadilha que enreda o homem no desespero. O despojamento. O nada esperar. Onde a última esperança estava morta.

E teve o privilégio de sobreviver para reportar e continuar como protagonista de uma ressurreição vitoriosa com o olhar no futuro.

Um apelo amoroso que se refugia em seu corpo-muralha, impostura de uma ficção verdadeira.

Uma filosofia de sustentação de proezas guerreiras e políticas, enfrentando os demônios e seus embelezamentos patéticos de pseudodemocracia, com uma lucidez mítica.

A sua profecia é a ação aqui e agora.

Sergio Gomes é uma espécie de declaração solene que não foi publicada condignamente.

Chego ao final do labirinto, onde lhe entrego o fio de Ariadne. Depois de me permitir navegar por tempestades de lembranças em um mar de memórias atadas por laços inextricáveis.

Só sinto gratidão pela confiança em minha aventura e pela oportunidade de poder me lançar neste AUÊ, onde a amargura pela ausência de seres tão queridos e especiais deu lugar a esta epopeia abstrata, que resgata heróis do balão de ensaio da vida onde há risco e dor, mas, também, permite uma ode aos homens-carvalho.

E, assim termino a minha jornada mítica do herói, invertendo a marchinha de Chico.

Desta vez, a banda fica parada a nos ver passar, nos despedindo da dor,   cantando coisas de amor.

Mais que folia, resistência | Notícias | OBORÉ Projetos Especiais (obore.com)

13 respostas para “AUÊ.BANDA.NÓS. Shellah Avellar”

  1. Delícia de texto, rico e colorido, onde as palavras passam diante de nós com a graça de um bloco carnavalesco, portando artísticos estandartes, dançando ao som das marchinhas de uma banda antiga e contando/cantando um enredo histórico com heróicos e admiráveis personagens. Salve, salve o Auê de Carnaval na Praça Vladimir Herzog!

  2. Texto lindo,, q vai tecendo em nós as lembranças e reminiscências!!! Amei! Só faltou definir o Serjão como o imprescindível de Brechet!!! Parabéns!!!

  3. Texto lindo,, q vai tecendo em nós as lembranças e reminiscências!!! Amei! Só faltou definir o Serjão como o imprescindível de Brechet!!! Parabéns!!! Salve o Auê de Carnaval da Praça Vladimir Herzog !!!

    1. Oi,Carmen.Brecht é o kara e meu mestre desde os 13 anos de idade.Vc tem razão.Sergio Gomes é isto. Entretanto creio que a turma da pesada que se enrolou nos fios de Ariadne tb ..E os Cafeteiros sem pauta tb..cada um na sua praia. Obrigada pela sua “presença” poraki. SALV TODAS E TODOS NÓS que celebramos Liberdades.

  4. Finalmente alguém conseguiu organizar a matéria-prima desses personagens, as palavras, de modo a traduzir o verdadeiro sentido dessas existências. Privilégio ler e conviver.

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