Dalton TRUMBO, A Vida ou A Obra?  Shellah Avellar

Dalton Trumbo Bryan Cranston(ator)

Aos que me lêem que tentem descobrir o que acontece aqui e, quando o souberem , ousem perguntar a qualquer homem :Onde está a Justiça?

E, se necessário, exigi-la , porque ela a Justiça, jamais foi, solidária com aqueles que para manter o status ,assumem a dupla máscara do bufão e do lacaio, da delação e da traição.

Não há intenção aqui,de eleger alguma doutrina, seita, filosofia, ou ismos de quaisquer espécies como os detentores da mais absoluta verdade, porquanto todos cometem os erros dos seus líderes humanos.

Vamos nos ater aos fatos , posto que este filme é baseado numa história real.

O Macartismo (McCarthyism), foi cunhado para criticar as ações do senador norte-americano Joseph McCarthy, cuja intensa patrulha anticomunista, gerou perseguição política e desrespeito aos direitos civis, nos EUA do final dos anos 1940 até meados dos anos 50.

A suspeita de infiltração comunista no exército e na sociedade americana, resultou numa caça obsessiva a pessoas comunistas e/ou simpatizantes da esquerda.

James Dalton Trumbo, [1905/1975]roteirista e romancista, membro do Hollywood Ten, um grupo de profissionais da indústria cinematográfica que se recusou a testemunhar e denunciar os companheiros da mesma, perante uma Comissão Parlamentar de Inquérito montada em 1947 pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos para averiguar a suposta infiltração na indústria de cinema.

Portanto é preso. O episódio dá origem ao filme TRUMBO: LISTA NEGRA, na qual estes profissionais estariam inclusos e ,em sendo assim, teriam sido impedidos de trabalhar.

Hedda Hopper [1890/1976],colunista influente de jornal de fofocas ,defende um discurso esquizofrênico e monocórdico para seus pares, em nome dos Direitos Americanos de um nacionalismo exacerbado contra um inimigo comum.Propositalmente , Jay Roach, diretor, (responsável pela bem- sucedida série Austin Powers) passeia a câmera pela platéia “uniforme e branca”.

Muito bem caracterizada por Helen Mirren , Hopper é o retrato da elite (americana ?) que ora pincela em tintas cordiais ora as carrega de ameaças, para tornar seu discurso digno de fé .

Entretanto os pontos altos do filme são dados pela cumplicidade e apoio familiar ,que, apesar dos conflitos gerados pela necessidade de sobrevivência, ainda dá o tom da coerência entre discurso e ação do personagem.

Após 11 meses de prisão retorna e continua escrevendo roteiros, com remuneração aquém de sua performance e, ainda assim é premiado e reconhecido ,e mesmo no anonimato é perseguido pelos seus ferrenhos opositores, que finalmente são obrigados

a se render à sua excelência ,tendo sua autoria reconhecida pela indústria que o havia abandonado temporariamente.

No discurso final,o olhar de Trumbo(ator Bryan Lee Cranston) varre um mar de rostos ,um por um ,com atenção, cuidado , respeito, remorso, e a compaixão pela situação imposta que os fizeram machucar-se uns aos outros.Um pensador infalível, vigiando seus iguais com um entusiasmo exausto e uma dignidade solitária .

Para quem tem olhos de ver e compartilhar do nó na garganta ,com o choro contido e amargurado da mulher Cleo Beth Fincher(Diane Lane)quando Trumbo finalmente reassume seu lugar no cenário cinematográfico.

E ,vibrar ,quando a sua resoluta filha Nikola Trumbo (Elle Fanning ) que segue seus passos , se alia ao Movimento pelos Direitos Civis dos negros, e o provoca para reassumir sua autoria e receber seus prêmios.(OSCAR por The Brave One (1956)e Roman Holiday(1953) entre outros.

Sugiro que assistam até o fim , quando da descida dos créditos e possam assistir ao depoimento emocionado do roteirista ao homenagear a filha a quem dedica o Oscar recebido.

O rumor que sobe de todos os cantos do Planeta, esta angústia que por séculos reúne rancores e ódios dispersos, pode entoar o canto de uma terrível colheita.

“Todo comunismo que fracassa chama seu fascismo. Mas todo fascismo que fracassa chama seu comunismo. A antítese assume facilmente o lugar do argumento.

Quando a filha Nikola,ainda menina, pergunta a Dalton se ela é comunista e ele a questiona: “Se você levar para a escola um sanduiche que você gosta muito e um amigo estiver sem lanche. Você compartilha sem pestanejar e sem se arrepender? E ela responde que sim.”

Claro que não podemos deixar de ignorar os radicalismos e barbárie que cada facção política e/ou religiosa carrega em si.

Entretanto a grandeza deste filme-documento que tem sido ignorado pela mídia,é um hino aos amanhãs, que cantam em uníssono ,que não basta fotografar uma época para que nasça uma literatura majestosa.

A revolução liberta nas palavras seu potencial máximo.

Forja novas consciências , provoca a urgência da reflexão e tenta sacudir uma burguesia moribunda e grávida de um passado remoto.

O discurso carregado de metáforas elípticas está morto.

E este luto dá lugar ao renascimento.E o prodigioso talento de Dalton Trumbo eclode com um poder exorcizante e com o silêncio eloquente que descansa nas grandes obras ,apesar do cinismo e da cegueira.

Hoje, atuante e atual, este filme vem elucidar as injustiças que se cometem penalizando os “pensamentos” contrários ao sistema vigente.

Vida e obra do roteirista Dalton Trumbo, por Shellah Avellar – GG (jornalggn.com.br)

7 respostas para “Dalton TRUMBO, A Vida ou A Obra?  Shellah Avellar”

  1. Todas as vezes que assisto o filme Spartacus me emociono com a cena em que o carrasco chama Spartacus e um a um os gladiadores respondem como sendo ele. É fabuloso: só alguém que tinha muita fé na humanidade poderia imaginar aquela cena. A grandeza da cena é maior ainda quando sabemos que Trumbo passou por uma perseguição terrível e não perdeu a fé no ser humano. Assisti um documentário sobre Dalton Trumbo onde os próprios filhos relatam a perseguição que sofriam, inclusive na escola. É monstruoso. É a partir da perseguição aos filhos que a família resolve ir para o México.

    Um ótimo livro sobre o período é Pentimento, de Liliam Hellman. Ela fala da perseguição que ela e Dashiell Hammet sofreram. Ficaram arruinados economicamente e Dashiel, que ao se recusar a entregar colegas foi submetido a humilhação de limpar as latrinas da prisão, nunca se recuperou. Se acabou na bebida.

    O livro A Cidade das Redes, num dos capítulos também deste período, inclusive da perseguição a Charlie Chaplin. O filme “Testa de Ferro por Acaso” resvala pela história de Trumbo, com a história de um caixa de supermercado que aceita emprestar seu nome para um roteirista perseguido e acaba ele próprio sendo vítima de perseguição. VERA VENTURINI

  2. Alguns foram presos, outros tiveram que sair dos Estados Unidos: até Chaplin! Ele e outro gênio exilado na Europa, Orson Welles, nunca receberam um Oscar… Outros dois cineastas extraordinários, Jules Dassin e Joseph Losey, também foram para a Europa. E aí eu citei a nata dos diretores do cinema americano. Outros menos conhecidos, roteiristas, atores, fotógrafos, etc, foram perseguidos por serem de esquerda. E alguns delataram colegas, para escaparem da “lista negra”. Foi o caso de Elia Kazan, ótimo cineasta, mas que passou o resto da vida purgando sua culpa.

    Alguns deles nem eram “comunistas”, como foram acusados. Não foi o caso de Brecht, comunista assumido, alemão exilado nos EUA e que teve que deixar o país. Esse que era um maiores dramaturgos e diretores do mundo tentava trabalhar como roteirista.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=GkiqGxD4CZ8%5D
    JAIR FONSECA

  3. ”Todas as vezes que assisto o filme Spartacus me emociono com a cena em que o carrasco chama Spartacus e um a um os gladiadores respondem como sendo ele.”

    Mas, sem mais e nem menos os dois estão se degladiando até a morte ( um grande FURO do filme, porque não explica como descobriram Spartacus)

    A grande tirada do filme é a do senador vigarista com o o cara que compra e vende escravos.

    O senador oferece uma grana pro cara.Este recua, Aí o senador oferece 2 000 ”sertércios”

    O cara responde : ”Por esse dinheiro eu venderia até Júpiter”.

    Em seguida o senador escolhe a faca pra se suicidar.

    Campeão ! ANARQUISTA SÉRIO

  4. Again,? so again .
    Comunista

    Again,? so again .

    Comunista e traidor

    Contardo Calligaris

    Cresci militando na esquerda. E sempre escutava o mesmo bordão: “Por que você não vai para a Rússia ou para a Bulgária (que era mais pobre ainda) ver o que é bom para a tosse?”.

    Eu sabia que detestaria viver em qualquer país do outro lado da Cortina de Ferro. Já tinha viajado por aquelas bandas, várias vezes. E juntara um catálogo de experiências que era suficiente para preferir a Itália –mesmo com a dita Democracia Cristã, a injustiça e a breguice dos emergentes do “milagre” do pós-guerra.

    Melhor aquela Itália do que a Bulgária do começo dos anos 1960, em que uma menina tinha pedido para que eu lhe mostrasse uma coisa que ela não tinha, sonhava em ter e achava que nunca teria –nenhuma alusão ao órgão sexual: o que ela queria ver era meu passaporte.

    No dia seguinte, no saguão do hotel, em Sófia, ela foi embora entre dois agentes que pareciam desenhados pela Marvel para assustar. De longe, ela me fez um sinal para não me preocupar. Essa história me dói ainda hoje. Onde está James Bond quando a gente precisa dele?

    Em suma, eu queria que a Itália inventasse “seu” socialismo; não tinha a menor vontade de que o país atravessasse a Cortina de Ferro. E, se fosse mesmo para dividir o mundo em dois blocos, cada um com seus países satélites, preferiria que fôssemos um satélite dos Estados Unidos.

    Tanto faz. O que importa é que, naquelas primeiras décadas depois da Segunda Guerra, falar sobre projetos de sociedade se tornou quase impossível.

    Pensei nisso, intensamente, assistindo a “Trumbo: Lista Negra”, de Jay Roach. Bryan Cranston (o protagonista de “Breaking Bad”) é Dalton Trumbo, talvez o melhor roteirista de Hollywood no fim dos anos 1940.

    A história é verdadeira: Trumbo e mais nove (quase todos roteiristas) foram investigados pelo Congresso dos Estados Unidos por terem sido ou serem comunistas ou socialistas. Como eles não cooperaram com a comissão do Congresso (uma espécie de CPI), eles foram presos por um ano.

    Durante mais de uma década, a indústria de Hollywood colocou 300 roteiristas, atores, músicos, diretores (Charlie Chaplin e Orson Welles entre eles) numa lista negra de pessoas impedidas de trabalhar: o filme que os empregasse seria boicotado por uma associação de figuras sinistras, entre as quais se destacava John Wayne.

    A perseguição acabou quando os “Studios” de Hollywood (começando por um grande ator e um grande diretor) decidiram não aceitar mais a chantagem da denúncia por “antiamericanismo”.

    Agora, a força dessa chantagem na opinião pública não tinha muito a ver com algum horror que inspirariam as ideias socialistas (a maioria dos cidadãos as ignorava totalmente).

    Acontece que a Guerra Fria tinha conseguido impedir qualquer debate de ideias, porque transformara uma divergência de opinião num crime de traição. Você é comunista? Você é um agente soviético. Você é liberal? Você é um agente dos EUA.

    Saí de “Trumbo” pensando três coisas: primeiro, que a coragem é sempre admirável –no caso, a coragem de não se desmentir.

    Segundo, que é incrível que, hoje, Bernie Sanders, um candidato viável à presidência dos EUA, possa se declarar socialista, apresentar suas ideias e não ser acusado de traição. O fim da Guerra Fria serviu para alguma coisa.

    Terceiro, que talvez Stálin tivesse razão. Essa vou ter que explicar.

    Depois da morte de Lênin, em 1924, Trótski pensava que a revolução soviética deveria incentivar outras revoluções socialistas mundo afora (deu, como exemplo, Che Guevara e Régis Debray na Bolívia etc.), porque o comunismo só seria viável se o mundo inteiro fosse comunista. Stálin, ao contrário, achava possível construir o socialismo num só país.

    Trótski foi derrotado, exilado e, mais tarde, em 1940, assassinado (sobre essa história, leia o lindo livro de Leonardo Padura, “O Homem que Amava os Cachorros”, lançado pela Boitempo).

    Mas, em sua grande maioria, a esquerda internacional pensou que Stálin trocava a esperança revolucionária de todos os povos pela constituição de uma burocracia nacional tacanha.

    Claro, Stálin era detestável, mas, sem o espantalho do sonho internacional trotskista, quiçá tivesse sido possível, nas décadas passadas, pelo vasto mundo, ser socialista ou comunista discutindo ideias, sem ser demonizado como traidor da pátria. Aqui no Brasil, por exemplo, sem ouvir: se você não gosta do país, “ame-o ou deixe-o” ANARQUISTA SÉRIO

  5. Trumbo: Lista Negra

    Vi o filme Trumbo, a Lista Negra. Não tem muita repercussão na nossa mídia idiotizante. Grande filme, performance incrível do ator Bryan Cranston, fortíssimo concorrente ao Oscar, que a mim parecia seguro pra Leonardo DiCaprio, que também tem uma atuação brilhante em O Regresso. Mas as comparações terminam aí, o primeiro é uma releitura da verdadeira “caça às bruxas” que aconteceu do final dos anos 40 ao início dos 60 nos EUA, e que, como acontece aqui de repetir como farsa tudo que ocorre no Império, vem à mente a palhaçada da “caçada aos petistas” que se chama Operação Lava-Jato, no popular Operação Vaza-Jato.
    MARCOS CARVALHO

  6. Humphrey Bogart e Lauren

    Humphrey Bogart e Lauren Bacall, dois dos mais populares atores de Hollywwod lideram protesto em Washington contra as perseguições macartistas. Entre os muitos famosos personagens que fez está o detetive Sam Spade, criado por Hammett.
    JAIR FONSECA

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