Não. Eu não tenho foto nem selfie com o Zé Celso Martinez.
Não sou atriz, nem pertencia a seu círculo de amigos nem de profissionais de sua área de atuação.
E também não era assídua espectadora no Teatro Oficina, embora já tivesse assistido a algumas montagens por lá.
Vou me ater aos últimos anos da pandemia para cá.
Por conta da polarização política demoníaca que se instaurou no país, resolvi adotar uma hastag #oAmorSIM , dado o ódio que povoava as redes sociais, as famílias, as relações de amizade e corporativas e a mídia tradicional.
Apenas porque tentava me manter lúcida e íntegra, meio às inverdades e ausência de sensatez que assolaram o Brasil.
O que virou uma espécie de grito desesperado em busca de harmonia.
Postava e posto ainda, quando passo os olhos nas redes sociais e me sinto mobilizada sensorialmente por qualquer mensagem de qualquer pessoa, seja minha conhecida ou não.
Completamente descompromissada de engajamentos de qualquer espécie.
O Zé Celso, sempre respondia gentilmente às minhas postagens. Carinho que prezo. Elegância que inspira. Gentileza que arrebata. Respeito pela simplicidade da hastag, mas, principalmente, pela compreensão do alcance pragmático do sentido.
Por conta de seu encantamento, no dia 06 de julho de 2023, num nos vídeos que foram resgatados, em sua homenagem, por ocasião de sua anistia política, em que ele diz que olhou um de seus torturadores nos olhos e percebeu que o homem “ era gente que nem ele”.
O cordão que se formou de seus discípulos, amigos e admiradores, no Teatro Oficina, seu Santuário, nos trouxe a afirmação absoluta da vertigem orgástica que distingue este seu EU, que resiste à sua passagem fatal.
Uma intensidade maior que todo o resto, como se através daquele coro dionísico, você gritasse : – Sou Aquilo que fiz.
Sua biografia está impressa em fogo nos palcos do mundo que você forjou no seu Teatro Oficina, onde a arte permanece e promove a combustão contínua pela qual o amor mantém os seres colados um ao outro.
Este amor, coito de larvas, revelou a sua verdade de ser pleno.
A sua experiência de amor, como uma fenda que se abre na garganta humana foi mais do que o estado de felicidade, mas, sim, um grito primal que cooptava com as trevas à guisa de cena iniciática.
Sua mistagogia é a comunhão do futuro.
O seu calor celebrou bodas inaudíveis, que misturava o inumano abjeto e inocente num solilóquio furioso nos confins do espasmo.
Incendiou a si mesmo, numa convulsão, ora fraternal, ora efervescente.
E, assim, chamuscados, tentaremos seguir adiante, nos perguntando se já fizemos amor bastante, nesta guerra de homens por solidariedade e paz.
Obrigada, Zé.
#oAmorSIM
Parabéns ! Seu texto é sensacional !