CAFÉ DOS DEUSES Shellah Avellar

Manhã de Sábado, 19 de julho. Estou me preparando para ir entregar uma aquarela para alguém, o que já estava agendado há um mês.

Daí, já no portão saindo para meu compromisso, recebo uma ligação de um pedido de adiamento.

Volto para deixar a encomenda em casa. Abro o zap, e vejo uma conclamação  geral do Sargent Pepper- o   amigo Sergio Gomes, para um café presencial com Leonardo Boff em sua residência.

Penso…uau.. Boff está a quatro quadras daqui.

Lá vou eu, descontraidamente ,me aventurar nesta viagem de beber nesta fonte, ao vivo e em cores.

Atrasada, imagino que deva estar lotado por lá. Qual não foi minha surpresa ao constatar que havia um pequeno grupo de pessoinhas especiais, na maioria jovens (onde me enquadro…risos) e adultos não menos energéticos e comprometidos com o exercício da LIVRE EXPRESSÃO em sua mais completa definição.

Tomo o primeiro de uma série de cafezinhos, e ouço atenta o convidado. Os encontros intimistas nos permitem adentrar outros universos de forma mais perscrutadora.

Ali estava o homem, o sábio, o companheiro de lutas, liberando pausadamente suas histórias e generosamente derramando sobre, abaixo e dentro de nós sua espiritualidade em franca evolução.

Ali se encontravam a matéria e o espírito seduzidos uma pelo outro e destinados ao “desentendimento’, motor propulsor da pesquisa bem-sucedida.

Para mim era mais que isso. Era um resgate de lembranças de um tempo bom, de investidas criativas e líricas, meio a dores pungentes, nos anos 70 , em minha cidade natal, Barra do Piraí, interior do Rio de Janeiro. Era uma imposição solene do finado amigo de infância e adolescência , o artista plástico Nelson Porto, que me introduziu ao texto de seu amigo e parceiro de obras literárias, Leonardo Boff. Ele dizia que a teologia de Boff vinha ao encontro de minhas inquietações e questionamentos polêmicos sobre religião e credos generalizados. Senti sua presença e a emoção do reencontro, em dimensões diferentes. Maktub!

Extinto o prazo do café, o anfitrião nos convidou a esticar para um almoço que se estendeu até o entardecer.

Tudo perfeito, debaixo de uma videira, com frestas de um sol atento, desfiamos nossas lendas, trajetórias, desabafos,  identidades, e indignações, regados a  uma comida solidária deliciosa, e às gentilezas da ariana Ana Luiza, companheira de cruz, copo e  ativismo profissional e social do Serjão.

Sem julgamentos, nos ouvimos e compartilhamos pão e vinho.

Éramos 12. E à imagem e semelhança da Santa Ceia, nos permitimos ser nós mesmos, sem crivo e sem filtro.

Na mistura de profissionais de atividades sociais, de jornalismo, arte e arteirices, comunicação e outras ciências liberamos tumultos internos e os transformamos em adubos que nos fertilizaram e saímos de lá renovados.

Muitos registros em fotos e vídeos, para materializarmos e eternizarmos o momento para além da memória afetiva.

Só havia espaço para a Celebração da Vida.

Sei que por ali já passaram várias cabeças extraordinárias. Aquela varanda está impregnada de potências.

Mas, foi minha primeira vez. E, dizem, que a primeira vez a gente nunca esquece.

Que venham outros.

Muito Obrigada.

Abs kósmikos.

#oAmorSIM

Sob os auspícios do Espírito Santo

photos de Camilo Mota e Shellah Avellar

Capa: Deus e o Homem -Leonardo Da VINCI

livro VIA SACRA DA RESSURREIÇÂO-presente de Luis Pio Pedro(Neném)

9 respostas para “CAFÉ DOS DEUSES Shellah Avellar”

  1. O texto, tão sereno e intimista, me transportou para o encontro.
    Na “Santa Ceia” a salada com figos me surpreendeu e encantou.
    Que “desmarque” de encomenda abençoado. Viva a Avellar.

    1. O UNIVERSO quando decide “conspirar”…ninguém segura. Sob os auspícios do Espírito Santo e ,certamente, conduzida pelas mãos de Nelsinho Porto.bjkittas kósmikas,meu eterno padrinho de casamento e amigo kerido.#oAmorSIM

  2. Que maravilha, Sheyla! Deve ter sido muito bom mesmo! Só o lugar já é encantador! E quantas lembranças!!! A videira me fez recordar meu pai que cuidou com tanto carinho da que ele plantou e que foi retirada e morta logo que a casa foi vendida. Lembrar também do “Nelsinho” Porto Noronha, amigo de juventude, vizinho querido… Obrigada por compartilhar! 😘

  3. Parabéns, querida! Texto belíssimo e impecável. O encontro com seu ídolo firmou a admiração e abriu espaço para uma experiência de bem querer. A amizade se consolidou com a generosidade do casal e a tarde se fez de oportunidades únicas.
    Receba meu abraço afetuoso e a minha gratidão pela oportunidade de participar também do encontro. A admiração pelo seu talento só cresce.
    Beijos. Saudades.

  4. Querida Shellah, quando me enviaste este link, inicialmente fiquei estupefato, sem palavras! Após reler e admirar as fotos por várias vezes, não tive como não parafrasear Gurdjieff: Este foi um verdadeiro “Encontros com Homens Notáveis” !
    Gratidão por compartilhar esses momentos tão cheios de Luz!
    Abraço Fraterno!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *