PEIXE FORA D´ÁGUA shellAHAvellar

Eram três da madrugada de um novembro qualquer.

Nascida ao contrário.Como se diz,”de bum-bum pra lua “,ela berrava seus primeiros rugidos no Planeta Terra.Este nascer ao contrário  já era sua marca. Diziam os parentes.

Nadando contra a corrente ,só fez atazanar mais ainda a esmagadora porcentagem de normalidade dos formatados.Dos burocratas.Dos ajuizados .Dos que permanecem.Dos que têm crédito.

Infância tumultuada .Rasgando o rotineiro pano de fundo num povoado de monstros e heróis.Criatividade  a todo vapor,deslizava no lamaçal familiar com arremedos de surfista.Craque em  metamorfosear o limbo em poesia.

Ali no seio familiar de intrigas  e injustiças.Argamassa propícia pra esculpir a revolucionária.De mãos dadas com o rancor,abraçava a dor com a certeza da vitória.Esta conotação triunfante,resultado de um triturador de risos sarcásticos,frieza inconteste e avareza de afeto.Espíritos endurecidos.

Coliseu da cólera gratuita .Esbanjavam vilezas contra ela.Bastidores de golpes combinados entre si por debaixo do pano.Sujeira sob os tapetes dos quatrocentões da tradicional família brasileira.Arrogância de falsos aristocratas maltrapilhos.

Respingavam nela sua baixa auto estima que lhe deu a  eterna sensação de peixe fora d’água.

Entretanto, as crianças, sorriam para ela.Os bebês lhe acenavam ,radiantes, à sua passagem.Os animaizinhos se achegavam e  se aninhavam em seu colo.As flores pareciam ficar mais vistosas  com sua presença.

Os pobres,os excluídos se sentiam fortalecidos e amparados por seu sorriso aberto e seus abraços largos.Mas, ainda assim, pela vida afora,o triste cenário do passado se repetia no trabalho,no amor,na vida.

Mas lhe restava os amigos sinceros.Os presentes.

Os que “compreendiam” que o peixe fora d’água era apenas um inocente e brincalhão  golfinho rindo à luz de céus azuis.

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