Gandhi persiste… shellAHAvellar

Gandhi_2968255k.jpg (858×536)

Um mito? Apenas um homem? Um acontecimento? A vida singular transformada em maravilha ou a não adequação à vida singular? A obsessão lúcida? Vontade indomável? Um livro aberto? Silêncio inquietante?

Sim, ele era um homem franzino. Pequenino. Quase imperceptível.

Olhos brilhantes. Perscrutadores. Radiografava e escaneava todos os que dele se acercavam, buscando significados nos significantes e insignificantes mistérios da alma humana.

Satya, Verdade e Ahimsa, não violência, eram seus lemas. Seu pensamento, sua obra. Sua ação.

Jejuava pela paz. Jejuava pelo amor. Jejuava para unir. Jejuava para libertar seu povo da opressão britânica.

Mas este fato o torna santo?

Todas as minhas possessões no mundo reduzem-se a um prato da prisão, algumas roupas e a minha reputação, que qualquer um pode utilizar.”

Alguns o qualificam como um mensageiro de Deus, ainda que admitindo nunca ter recebido nenhuma revelação divina.

Ou apenas coerente?

Ele mesmo contradiz a coerência:

“Não estou absolutamente interessado em parecer coerente. No meu caminho em busca da verdade, tenho abandonado muitas ideias e tenho aprendido muitas coisas novas. Velho como sou de corpo, não tenho a consciência de ter cessado de crescer interiormente, ou que o meu crescimento vá estagnar com a dissolução da minha carne. O que me interessa é a minha atitude de prontidão em obedecer ao chamado da verdade, de momento a momento. Há princípios eternos que não admitem compromisso, e o homem deve estar disposto a sacrificar a sua vida para obedecer a esses princípios”.

O menino. O jovem. O chamado.

Mohandas Karamchand Gandhi nasceu no dia 2 de outubro de 1869, em Porbandar, na Índia Ocidental (hoje estado de Gujarat). Casou-se aos 14 anos com Kasturbai, da mesma idade, numa união acertada entre as famílias. O casal teve quatro filhos.

Grande conhecedor das escrituras hindus, aos 19 anos vai estudar Direito na Universidade de Londres, no Reino Unido. Regressa à Índia, Bombaim, como advogado. Depois emigra para a África do Sul, onde viviam 150 mil indianos.

Um divisor de águas em sua trajetória: um incidente ocorrido ao viajar de trem. Gandhi ia na primeira classe, quando solicitaram que se transferisse para a terceira classe, por ele não ser branco. Ao se recusar, foi jogado para fora . O episódio o incentivou a advogar contra as leis discriminatórias vigentes.

A ação de Gandhi consistia em desobedecer as leis inglesas sem se importar com sofrer as consequências do ato, de boicotar os produtos ingleses, de fazer greves de fome para que hindus e muçulmanos deixassem de lado as divergências religiosas e se unissem em favor da causa comum: a independência. Acabou por conquistar admiradores no mundo todo, inclusive na Inglaterra.

Entretanto, a Segunda Guerra Mundial (1939-45) teve o efeito de enfraquecer a Inglaterra, de modo que, ao fim do conflito mundial, não conseguiu mais manter o domínio sobre a Índia. Em 15 de agosto de 1947, a independência da Índia foi declarada. O país, porém, ainda enfrentava forte tensão entre os grupos religiosos rivais e se fragmentou em dois, a Índia propriamente dita e o Paquistão, sendo que este estava geograficamente dividido em Oriental e Ocidental, com um enclave indiano entre ambos.

Portanto, a violência religiosa e a disputa por terras prevaleciam. Em 1948, a ilha do Ceilão, a sudeste do subcontinente indiano, tornou-se um Estado independente, com o nome de Sri Lanka. Do mesmo modo, o Paquistão oriental formaria um novo país, Bangladesh, em 1971.

Hoje, na República da Índia, os conflitos entre hindus e muçulmanos são menores, embora persistam. Outros dois grupos religiosos também têm força no país, os budistas e os sikhs, uma seita hinduísta com características próprias. As relações com o Paquistão ainda são conflituosas, em especial no que se refere à província indiana da Caxemira, no norte do país.

Clarividência

Gandhi agia de modo tão peculiar que soava como absurdo. Parecia um líder nacionalista como outros tantos comuns na época dele, Sukarno na Indonésia, Bembela na Argélia, Nasser no Egito e outros. Porém, diferenciava-se na aplicação dos princípios da autonomia, da autopurificação e da não violência no processo de independência da Índia.

E a independência da Índia não é pouca coisa porque ela era a joia da coroa inglesa. De todas as colônias, era a colônia-chave. Retirada, quebraria o império inglês, como quebrou.

E ele, diante de uma luta tão crucial para o mundo todo, pois se estava mudando um sistema colonial imperialista, do qual a Inglaterra era o paradigma, defendeu que era possível ter um entendimento com o centro do império. E muitas vezes ele defendeu que a Índia e a Inglaterra continuassem ligadas numa comunidade, em que as nações tivessem os mesmos direitos e deveres. Chegou a defender, para desespero dos radicais da época, que era possível e bom para a Índia, para a Inglaterra e para o mundo um entendimento entre as partes, e que os dois pudessem continuar ligados, mas como pares, como iguais.

Infelizmente, o movimento de descolonização, tanto do lado dos oprimidos como dos opressores, não tomou essa posição em lugar nenhum e até hoje se vivem as consequências da independência usando o método tradicional da violência contra a violência. Depois, com o avanço da violência e da repressão dos ingleses, Gandhi aderiu à independência total. O entendimento talvez tivesse mudado a história recente, se tivesse acontecido, se a Inglaterra e as lideranças hindus, que estavam com ele, tivessem tido essa clarividência. Preferiram aquela separação, inclusive com a criação absurda do Paquistão, que foi um acontecimento traumático e desastroso para a independência, e motivo de desgosto para Gandhi e de certa forma o motivo da morte dele, uma vez acusado pelo nacionalista hindu que o assassinou de ser tolerante demais com os muçulmanos.

Veja aqui entrevista com Gandhi, à época da luta pela independência:

Vegetarianismo Político

Um aspecto que exprime as posições de Gandhi da não violência, da autonomia ou autoconfiança e da autopurificação é a opção pelo vegetarianismo. É uma tradição hindu muito forte, mas nem todo mundo na Índia é vegetariano. O fato é que o vegetarianismo de Gandhi é um elemento político. Quando se discute hoje o desenvolvimento sustentável, o fato de ser vegetariano ou, pelo menos, quase vegetariano, adotando a postura gradualista de Gandhi, pode ser importante. O vegetarianismo dele expressa muito bem suas posições básicas diante da vida, porque é uma forma de produzir melhor, destinar melhor as terras e a produção para satisfazer todo o mundo, no mundo inteiro. Já existem cálculos mostrando que isso seria possível se as terras fossem mais dedicadas à produção vegetariana do que à carnívora.

Gandhi nunca recebeu o Prêmio Nobel da Paz, apesar de ter sido indicado cinco vezes a ele, entre 1937 e 1948. Décadas depois, no entanto, o erro foi reconhecido pelo comitê organizador do Nobel. Albert Einstein disse sobre ele: “As gerações por vir terão dificuldade de acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra”.

O Legado

Pensei muito antes de pesquisar e escrever tudo isso. Recortes de outras cabeças. Observação das notícias. A falta de alusões a Gandhi, 72 anos após seu assassinato, no dia 30 de janeiro de 1948.

Tantas manifestações pelo mundo globalizado. Por tantas causas sem causa. Outras afins. Um oceano de informações pululando em nossas mentes. Rolezinhos. Passeatas. Marchas com deus e o diabo. Incêndios. Tsunamis. Terremotos e inundações. O mundo em movimento. O planeta ardendo em chamas. Governos caindo de podre. Jovens buscando encontrar um lugar no futuro. Tanta violência. Em casa. Na rua. No trabalho. No lazer.

Fui até a Praça Túlio Fontoura, em frente ao parque do Ibirapuera, em São Paulo, pela manhã. Lá estava a estátua de Mahatma Gandhi. Algumas pétalas. Cruzo com um indiano de branco e lágrimas nos olhos.

Ele passa por mim… desolado… talvez tenha deixado as pétalas; eu, nem isso. Ao contrário dele, não chorei, só senti. Olhei bem para aquela estátua tão bem esculpida… e sorri.

Pensei na história daquele homem até aqui.

Caminhei lentamente até o parque procurando me embebedar das benesses do verde que se derramava para que pudesse ter alguns momentos de solitude neste inferno, que não é o de Roberto Carlos.

E pedi: só quero a sua paz…

De lá segui para o trabalho.

A surpresa

À noite, me reuni com algumas pessoas, talvez ingênuas como eu, no Centro Cultural da Índia, para assistir a uma mesa-redonda sobre a ocupação Gandhi no século XXI.

Após a breve contação de histórias de Tininha Calazans, uma fada, começa o bate-papo com quatro jovens: Pedro Kelson Batinga, coordenador dos projetos de cultura de paz da Palas Athena; Anielle Guedes, economista, presidente do Centro de Empreendedorismo da Universidade de São Paulo; Mariana Campanatti, publicitária e cofundadora do Movimento Imagina na Copa; e André Gravatá, coautor do livro “Volta ao mundo em 13 escolas” e integrante do coletivo Educ-Ação. Esses jovens me chamam a atenção principalmente pelo entusiasmo (que, segundo os gregos, significa ter o deus dentro de si). Talvez isso explique tudo, mas, às vezes, não enxergo esse entusiasmo em outros jovens, salvo quando é para olhar para seu próprio umbigo.

O mais interessante é que eles dizem se inspirar em Gandhi. Não só eles, mas também outros jovens da Índia e da Grécia que acessaram o portal do encontro.

Ora, ora, se assim é, nem tudo é caos nas fronteiras ardentes de Dante.

Se 66 anos após seu assassinato Gandhi estava mobilizando jovens acadêmicos e da periferia em várias partes do mundo e no Brasil, já terá valido a pena.

Johan Galtung, sociólogo norueguês criador da disciplina estudos de paz e conflitos, chama isso de transcendência. É uma inovação: inventar saídas em situações difíceis de conflitos, e o político, o partido político, a força política, a força social ter a capacidade de criar uma posição para onde possam migrar posições conflitantes e as duas posições possam crescer. Essa é uma questão fantástica, a própria essência, a mais alta função da política: transitar não como se fosse um negócio, a compra de um carro ou de uma casa, mas para a criação de uma posição nova.

Gandhi quer que as pessoas, as classes, os grupos, as aldeias, os países, não só a Índia, tenham autoconfiança e autonomia, dependam o menos possível de outras forças e possam viver. E para isso é necessária uma vida a mais simples possível, para não depender de bens que não se consegue produzir nem ter. Esse é o outro elemento-chave, junto com a não violência, a autonomia, a autoconfiança.

Apesar das cicatrizes das guerras. Apesar dos rancores dos conflitos. Apesar das tristezas das batalhas.

Olhar o entorno.

O convite. O sonho é agora.

Gandhi dizia ser bom sinal quando “olhamos melhor nossos próprios defeitos”. Assim nos tornamos melhores amigos de nós mesmos.

Ao tecermos nossa própria indumentária, renunciamos a ambicionar a dos outros.

Ao produzirmos nosso próprio sal, aprendemos a consumir conscientemente.

Aprimorando nossa dignidade e guardando-a como um grão precioso. Fazê-la crescer e prosperar sem nos violentarmos por causa de caprichos de qualquer podre poder.

Num encontro em que o cônsul não discursa, mas canta… e encanta… isso me diz ao coração que é possível ter esperança.

E vou-me embora.

Ao chegar em casa, lá pelas 22h45, coloco a chave no portão. Rua deserta. Um homem surge na esquina e grita para mim, num inglês tipicamente oriental.

Please, miss… Speak English?

Respondo, atônita:

Yes. From India?

Ele responde:

From Pakistan. Where is the supermarket? Need to buy soy milk for my child.

Eu indico:

Two more blocks and turn your right. Run, it´s closing!

Ele sai correndo…

Eu entro. E me permito sonhar com a paz mundial.

Mani Bhavan -residencia de Gandhi em Mumbai, onde morou por 17 anos e escreveu o SatyaGraha

No dia em que voltei para o Brasil. Mais uma vez encontro com Gandhi,no aeroporto, para me dizer:Até Logo! #oAmorSIM

O texto acima foi escrito no dia de desaniversário de 66 anos do Assassinato de Gandhi.

A visita à sua residência, em Mumbai ,foi feita em 2018

https://www.editoralimiar.com.br/post/gandhi-o-mito-e-2-de-outubro

Gandhi persiste…

shellAHAvellar

¿Un mito? ¿Sólo un hombre? ¿Un acontecimiento? ¿Una vida singular transformada en maravilla o un fracaso de adaptación a una vida singular? ¿Obsesión lúcida? ¿Voluntad indomable? ¿Un libro abierto? ¿Un silencio inquietante?

Sí, era un hombre pequeño. Casi imperceptible.

De ojos brillantes y escrutadores. Radiografiaba y escaneaba a todos los que se le acercaban, buscando sentido en los misterios significativos e insignificantes del alma humana.

Satya, la Verdad y Ahimsa, la no violencia, eran sus lemas. Su pensamiento, su obra. Su acción.

Ayunó por la paz. Ayunó por amor. Ayunó para unir. Ayunó para liberar a su pueblo de la opresión británica.

Pero, ¿le convierte esto en un santo?

“Todas mis posesiones en el mundo se reducen a un plato de la prisión, algo de ropa y mi reputación, que cualquiera puede usar”.

Algunos lo describen como un mensajero de Dios, aunque él admite que nunca recibió ninguna revelación divina.

¿Simplemente coherencia?

Él mismo contradice la coherencia:

“No me interesa en absoluto parecer coherente. En mi viaje en busca de la verdad, he abandonado muchas ideas y he aprendido otras cosas nuevas. Por muy viejo que sea en cuerpo, no me doy cuenta de que he dejado de crecer interiormente, ni de que mi crecimiento se estancará con la disolución de mi carne. Lo que me interesa es mi actitud de disposición a obedecer la llamada de la verdad, en cada momento. Hay principios eternos que no admiten concesiones y el hombre debe estar dispuesto a sacrificar su vida para obedecerlos.”

El niño. El joven. La llamada.

Mohandas Karamchand Gandhi nació el 2 de octubre de 1869 en Porbandar, al oeste de la India (actual estado de Gujarat). Se casó a los 14 años con Kasturbai, que tenía la misma edad, en una unión acordada entre las familias. La pareja tuvo cuatro hijos.

Gran conocedor de las escrituras hindúes, a los 19 años se fue a estudiar Derecho a la Universidad de Londres, en el Reino Unido. Regresó a Bombay (India) como abogado. Después emigró a Sudáfrica, donde vivían 150.000 indios.

Un punto de inflexión en su carrera: un incidente mientras viajaba en tren. Gandhi viajaba en primera clase cuando le pidieron que pasara a tercera porque no era blanco. Al negarse, le echaron. El episodio le animó a abogar contra las leyes discriminatorias vigentes.

Las acciones de Gandhi consistieron en desobedecer las leyes británicas sin importarle las consecuencias, boicotear los productos británicos, hacer huelgas de hambre para que hindúes y musulmanes dejaran de lado sus diferencias religiosas y se unieran en favor de la causa común: la independencia. Acabó ganándose admiradores en todo el mundo, incluso en Inglaterra.

Sin embargo, la Segunda Guerra Mundial (1939-1945) tuvo el efecto de debilitar a Inglaterra, de modo que al final del conflicto mundial ya no pudo mantener su dominio sobre la India. El 15 de agosto de 1947 se declaró la independencia de la India. Sin embargo, el país seguía enfrentado fuertes tensiones entre grupos religiosos rivales y se fragmentó en dos, India propiamente dicha y Pakistán, este último dividido geográficamente en Este y Oeste, con un enclave indio en medio.

Predominaban, por tanto, la violencia religiosa y las disputas por las tierras. En 1948, la isla de Ceilán, en el sureste del subcontinente indio, se convirtió en un Estado independiente con el nombre de Sri Lanka. Del mismo modo, Pakistán Oriental formaría un nuevo país, Bangladesh, en 1971.

Hoy, en la República de la India, los conflictos entre hindúes y musulmanes son menores, aunque persisten. Otros dos grupos religiosos también tienen fuerza en el país, los budistas y los sijs, una secta hindú con características propias. Las relaciones con Pakistán siguen siendo conflictivas, sobre todo en lo que respecta a la provincia india de Cachemira, en el norte del país.

Clarividencia.

Gandhi actuaba de un modo tan peculiar que resultaba absurdo. Parecía un líder nacionalista como otros tantos comunes en su época: Sukarno en Indonesia, Bembela en Argelia, Nasser en Egipto y otros. Sin embargo, difería en la aplicación de los principios de autonomía, autodepuración y no violencia en el proceso de independencia de la India.

Y la independencia de la India no fue una hazaña menor porque era la joya de la corona inglesa. De todas las colonias, era la colonia clave. Apartada, rompería el imperio británico, como así ocurrió.

Y él, al frente de una lucha crucial en el mundo porque se estaba cambiando un sistema colonial imperialista, del que Inglaterra era el paradigma. Siempre defendió que era posible tener un entendimiento con el imperio. Y a menudo sostenía que la India e Inglaterra permanecerían vinculadas en una comunidad en la que las naciones tuvieran los mismos derechos y deberes. Incluso manifestaba, para consternación de los radicales de la época, que era posible y bueno para la India, para Inglaterra y para el mundo llegar a un entendimiento entre las partes y que ambas podían seguir vinculadas, pero como pares, como iguales.

Infelizmente, el movimiento de descolonización, tanto del lado de los oprimidos como de los opresores, no adoptó esta posición y hasta el día de hoy se viven las consecuencias de la independencia utilizando el método tradicional de la violencia contra la violencia. Después, ante el avance de la violencia y la represión por parte de los británicos, Gandhi se adhirió a la independencia total. Este entendimiento podría haber cambiado la historia reciente si se hubiera producido, si Inglaterra y los líderes hindúes que estaban con él hubieran tenido esta clarividencia.

Favorecieron la separación, incluida la absurda creación de Pakistán, que fue un acontecimiento traumático y desastroso para la independencia y una fuente de dolor para Gandhi y en cierto modo, el motivo de su muerte, ya que fue acusado por el nacionalista hindú que lo asesinó de ser demasiado tolerante con los musulmanes.

Véase aquí una entrevista con Gandhi en la época de la lucha por la independencia:

Vegetarianismo político.

Un aspecto que expresa las posturas de Gandhi respecto de la no violencia, de la autonomía o  autosuficiencia y de la autodepuración es su opción por el vegetarianismo. Es una tradición hindú muy arraigada, pero no todo el mundo en la India es vegetariano. El hecho es que el vegetarianismo de Gandhi es un elemento político. A la hora de debatir sobre desarrollo sostenible hoy en día, ser vegetariano o al menos casi vegetariano, adoptando la postura gradualista de Gandhi, puede ser importante. Su vegetarianismo expresa muy bien sus posiciones básicas sobre la vida, porque es una forma de producir mejor, de asignar mejor las tierras y la producción para satisfacer a todo el mundo, en el mundo entero. Ya hay cálculos que demuestran que esto sería posible si se dedicara más tierra a la producción vegetariana que a la carnívora.

Infelizmente, el movimiento de descolonización, tanto del lado de los oprimidos como de los opresores, no adoptó esta posición y hasta el día de hoy se viven las consecuencias de la independencia utilizando el método tradicional de la violencia contra la violencia. Después, ante el avance de la violencia y la represión por parte de los británicos, Gandhi se adhirió a la independencia total. Este entendimiento podría haber cambiado la historia reciente si se hubiera producido, si Inglaterra y los líderes hindúes que estaban con él hubieran tenido esta clarividencia.

Favorecieron la separación, incluida la absurda creación de Pakistán, que fue un acontecimiento traumático y desastroso para la independencia y una fuente de dolor para Gandhi y en cierto modo, el motivo de su muerte, ya que fue acusado por el nacionalista hindú que lo asesinó de ser demasiado tolerante con los musulmanes.

Véase aquí una entrevista con Gandhi en la época de la lucha por la independencia:

Vegetarianismo político

Un aspecto que expresa las posturas de Gandhi respecto de la no violencia, de la autonomía o  autosuficiencia y de la autodepuración es su opción por el vegetarianismo. Es una tradición hindú muy arraigada, pero no todo el mundo en la India es vegetariano. El hecho es que el vegetarianismo de Gandhi es un elemento político. A la hora de debatir sobre desarrollo sostenible hoy en día, ser vegetariano o al menos casi vegetariano, adoptando la postura gradualista de Gandhi, puede ser importante. Su vegetarianismo expresa muy bien sus posiciones básicas sobre la vida, porque es una forma de producir mejor, de asignar mejor las tierras y la producción para satisfacer a todo el mundo, en el mundo entero. Ya hay cálculos que demuestran que esto sería posible si se dedicara más tierra a la producción vegetariana que a la carnívora.

Gandhi nunca recibió el Premio Nobel de la Paz, a pesar de haber sido propuesto cinco veces entre 1937 y 1948. Sin embargo, décadas más tarde, el comité organizador del Nobel reconoció el error. Albert Einstein dijo de él: “A las generaciones venideras les costará creer que un hombre así existiera realmente y caminara sobre la Tierra”.

El legado.

Pensé mucho antes de investigar y escribir todo esto. Leí escritos de otras personas. Vi las noticias. Y observé la falta de alusiones a Gandhi, 72 años después de su asesinato el 30 de enero de 1948.

Tantas manifestaciones en el mundo globalizado. Por tantas causas sin una causa. O causas afines. Un océano de informaciones pululando en nuestras mentes. Concentraciones. Quedadas. Marchas con dios y con el diablo. Incendios. Tsunamis. Terremotos e inundaciones. El mundo en movimiento. El planeta ardiendo en llamas. Gobiernos que se desmoronan. Jóvenes tratando de encontrar un lugar en el futuro. Tanta violencia. En las casas. En las calles. En el trabajo. En el ocio.

Por la mañana fui a la Praça Túlio Fontoura, frente al Parque de Ibirapuera, en São Paulo. Allí estaba la estatua de Mahatma Gandhi. Vi unos cuantos pétalos. Me topé con un hombre indio vestido de blanco con lágrimas en los ojos.

Pasó a mi lado… abatido… quizá haya dejado atrás de sí, los pétalos; yo, ni eso. A diferencia de él, yo no lloré, sólo sentí. Eché un buen vistazo a aquella estatua bellamente esculpida… y sonreí.

Pensé en la historia de aquel hombre hasta hoy.

Caminé despacio hacia el parque, tratando de empaparme de las bondades del verdor que se extendía para poder tener unos momentos de soledad en este infierno, que no es de Roberto Carlos.

Y pedí: Sólo quiero tu paz…

A partir de ahí me puse a trabajar.

La sorpresa.

Por la noche, me reuní con algunas personas, quizás tan ingenuas como yo, en el Centro Cultural de la India para asistir a una mesa redonda sobre la ocupación de Gandhi en el siglo XXI.

Tras una breve narración de Tininha Calazans, un hada, comenzó una charla con cuatro jóvenes: Pedro Kelson Batinga, coordinador de los proyectos de cultura de paz de la Palas Athena; Anielle Guedes, economista y presidenta del Centro de Emprendimiento de la Universidad de São Paulo; Mariana Campanatti, publicista y cofundadora del Movimiento Imagina na Copa y André Gravatá, coautor del libro “La vuelta al mundo en 13 escuelas” y miembro del colectivo Educ-Ação. Estos jóvenes me llaman la atención sobre todo por el entusiasmo (que, según los griegos, significa tener el dios dentro de uno). Quizá eso lo explique todo, pero a veces no veo ese entusiasmo en otros jóvenes, salvo cuando se trata de mirarse el ombligo.

Lo más interesante es que ellos afirman inspirarse en Gandhi. No sólo ellos, sino también otros jóvenes de la India y Grecia que accedieron al portal del encuentro.

Vaya, si es así, no todo es caos en las ardientes fronteras de Dante.

Si 66 años después de su asesinato, Gandhi estaba movilizando a jóvenes universitarios y de la periferia en diversas partes del mundo y en Brasil, habrá valido la pena.

Johan Galtung, el sociólogo noruego creador de la disciplina de estudios sobre la paz y los conflictos, llama a esto trascendencia. Es una innovación: inventar salidas en situaciones difíciles de conflicto y que el político o el partido político, la fuerza política, la fuerza social tenga la capacidad de crear una posición en la que las posiciones en conflicto puedan migrar y las dos posiciones puedan crecer. Esta es una cuestión fantástica, la esencia misma, la función más elevada de la política: moverse no como si se tratara de un negocio, de la compra de un coche o de una casa, sino de crear una nueva posición.

Gandhi quiere que las personas, las clases, los grupos, los pueblos, los países, no sólo la India, tengan confianza en sí mismos y autonomía, que dependan lo menos posible de otras fuerzas y que puedan vivir. Y esto requiere una vida lo más simple posible, para no depender de bienes que no se pueden producir o tener. Este es el otro elemento clave, junto con la no violencia, la autonomía y la confianza en uno mismo.

A pesar de las cicatrices de las guerras. A pesar de la amargura de los conflictos. A pesar de la tristeza de las batallas.

Mira a tu alrededor.

La invitación. El sueño es ahora.

Gandhi decía que era una buena señal cuando “miramos de cerca nuestros propios defectos”. Así es como nos hacemos mejores amigos de nosotros mismos.

Al tejer nuestra propia ropa, renunciamos a ambicionar la de los demás.

Produciendo nuestra propia sal, aprendemos a consumir conscientemente.

Realzando nuestra dignidad y guardándola como un grano precioso. La hacemos crecer y prosperar sin violentarnos por los caprichos de ningún poder podrido.

En una reunión en la que el cónsul no da un discurso, sino que canta… y encanta… esto me dice en el corazón que es posible tener esperanza.

Me marcho y cuando llego a casa, sobre las 22.45, meto la llave en la puerta. La calle está desierta. Un hombre dobla la esquina y me grita en el típico inglés oriental.

  • Por favor, señorita… ¿Habla inglés?

Le respondo, asombrada:

  • Sí. ¿De la India?

Me responde:

  • De Pakistán. ¿Dónde está el supermercado? Necesito comprar leche de soja para mi hijo.

Le indico:

  • Dos manzanas más y gire a la derecha. ¡Corre, está cerrando!

Él sale corriendo…

Yo entro en casa. Y me permito soñar con la paz mundial.

El día que regresé a Brasil. Una vez más me encuentro con Gandhi en el aeropuerto para decirle: ¡Hasta luego! #oAmorSIM

El texto anterior fue escrito en el 66 aniversario del asesinato de Gandhi.

La visita a su residencia en Bombay tuvo lugar en 2018.

Gandhi persists in…

shellAHAvellar

A myth? Just a man? An event? A singular life transformed into wonder or a failure to adapt to a singular life? Lucid obsession? Indomitable will? An open book? A disturbing silence?

Yes, he was a small man. Almost imperceptible. Bright eyes and tellers. He X-rayed and scanned all who approached him, seeking meaning in the meaningless mysteries of the human soul.

Satya, Truth and Ahimsa, non-violence, were his slogans. His thought, his work. His action. He fasted for peace. He fasted for love. He fasted to unite. He fasted to free his people from British oppression. But does this make you a saint? “All my possessions in the world boil down to a prison plate, some clothes and my reputation, which anyone can wear”.

Some describe him as a messenger of God, though he admits that he never received any divine revelation. Just consistency? He himself contradicts consistency: “I am not at all interested in appearing coherent. In my journey in search of the truth, I have abandoned many ideas and learned other new things. However old I am in body, I do not realice that I have stopped growing inwardly, nor that my growth will stagnate with the dissolution of my flesh. What interests me is my willingness to obey the call of truth, at every moment. There are eternal principles that admit no concessions and man must be willing to sacrifice his life to obey them.”

The boy. The young man. The call.

Mohandas Karamchand Gandhi was born on 2 October 1869 in Porbandar, western India (present-day state of Gujarat). She married at the age of 14 Kasturbai, who was the same age, in a marriage arranged between the families. The couple had four children.

A great connoisseur of the Hindu scriptures, at the age of 19 he went to study law at the University of London in the United Kingdom. He returned to Mumbai (India) as a lawyer. He then emigrated to South Africa, where 150,000 Indians lived.

A turning point in his career: an incident while traveling by train. Gandhi was traveling in first class when he was asked to move to third because he was not white. When he refused, he was thrown out. The episode encouraged him to advocate against existing discriminatory laws.

Gandhi’s actions consisted of disobeying British laws regardless of the consequences, boycotting British produce, holding hunger strikes so that Hindus and Muslims would set aside their religious differences and unite in favor of the common cause: the independence. He ended up gaining admirers all over the world, even in England.

However, World War II (1939-1945) had the effect of weakening England, so that at the end of the world conflict it could no longer maintain its rule over India. On 15 August 1947, India was declared independent. However, the country continued to face strong tensions between rival religious groups and fragmented into two, India proper and Pakistan, the latter geographically divided into East and West, with an Indian enclave in between.

Religious violence and land disputes were therefore prevalent. In 1948, the island of Ceylon, in the southeast of the Indian subcontinent, became an independent state with the name of Sri Lanka. Similarly, East Pakistan would form a new country, Bangladesh, in 1971.

Today, in the Republic of India, conflicts between Hindus and Muslims are minor, although they persist. Two other religious groups also have strength in the country, the Buddhists and the Sikhs, a Hindu sect with its own characteristics. Relations with Pakistan remain contentious, particularly with regard to the northern Indian province of Kashmir.

Clairvoyance.

Gandhi was acting so peculiar that it was absurd. He looked like a nationalist leader like many others common at the time: Sukarno in Indonesia, Bembela in Algeria, Nasser in Egypt and others. However, it differed in the application of the principles of autonomy, self-determination and non-violence in India’s independence process.

And independence from India was no small feat because it was the jewel in the English crown. Of all the colonies, it was the key colony. Apart, it would break the British Empire, as it happened.

And he was leading a crucial struggle in the world, because he was changing an imperialist colonial system, of which England was the paradigm.

 He always argued that it was possible to have an understanding with the empire. And he often argued that India and England would remain linked in a community where nations had the same rights and duties. He even stated, to the dismay of the radicals of the time, that it was possible and good for India, for England and for the world to reach an understanding between the parties and that both could remain linked, but as peers, as equals.

Unfortunately, the decolonization movement, both on the side of the oppressed and the oppressors, did not adopt this position and to this day the consequences of independence are experienced using the traditional method of violence against violence. Then, faced with the advance of violence and repression by the British, Gandhi joined the total independence.

This understanding could have changed recent history if it had occurred, if England and the Hindu leaders who were with him had this clairvoyance.

They favored separation, including the absurd creation of Pakistan, which was a traumatic and disastrous event for independence and a source of pain for Gandhi and in a way, the reason for his death, since he was accused by the Hindu nationalist who murdered him of being too tolerant of Muslims.

See here an interview with Gandhi at the time of the struggle for independence:

Political vegetarianism.

One aspect that expresses Gandhi’s positions on non-violence, autonomy or self-sufficiency and self-purification is his choice for vegetarianism. It is a deep-rooted Hindu tradition, but not everyone in India is vegetarian. The fact is that Gandhi’s vegetarianism is a political element. When discussing sustainable development today, being vegetarian or at least almost vegetarian, adopting Gandhi’s gradualist stance, can be important.

Their vegetarianism expresses very well their basic positions on life, because it is a way of producing better, of better allocating land and production to satisfy everyone, all over the world. Calculations already show that this would be possible if more land was devoted to vegetarian production than to carnivores.

Gandhi never received the Nobel Peace Prize, despite being proposed five times between 1937 and 1948. However, decades later, the Nobel organizing committee recognized the error. Albert Einstein said of him: “It will be hard for future generations to believe that such a man actually existed and walked the Earth”.

The legacy.

 I thought long before I researched and wrote all this. I read other people’s writings. I saw the news. And I observed the lack of allusions to Gandhi, 72 years after his assassination on January 30, 1948.

So many manifestations in the globalized world. So many causes without a cause. Or related causes. An ocean of information swarming in our minds. Concentrations. Meetings. Marches with God and the devil. Fires. Tsunamis. Earthquakes and floods. The world moving. The planet burning. Governments crumbling. Young people trying to find a place in the future. So much violence. In houses. In the streets. In work. In leisure.

In the morning I went to Praça Túlio Fontoura, opposite the Ibirapuera Park in São Paulo. There was the statue of Mahatma Gandhi. I saw a few petals. I ran into an Indian man dressed in white with tears in his eyes. He passed by me… dejected… perhaps he had left behind him the petals; me neither.

Unlike him, I did not cry, I just felt. I took a good look at that beautifully sculpted statue… and smiled.

I thought about that man’s story until today.

I walked slowly towards the park, trying to soak myself in the goodness of the greenery that extended to have a few moments of solitude in this hell, which is not Roberto Carlos.

And I asked, I just want your peace…

From there I got to work.

The surprise.

In the evening, I met some people, perhaps as naive as myself, at the Cultural Centre of India to attend a round table on the occupation of Gandhi in the 21st century.

After a brief narration by Tininha Calazans, a fairy, began a talk with four young people: Pedro Kelson Batinga, coordinator of peace culture projects at Palas Athena; Anielle Guedes, economist and president of the University of São Paulo Entrepreneurship Center; Mariana Campanatti, publicist and co-founder of the Imagina na Copa Movement and André Gravatá, co-author of the book “Around the World in 13 Schools” and member of the Educ-Ação collective.

These young people call my attention above all by the enthusiasm (which, according to the Greeks, means having the god within you). Perhaps that explains everything, but sometimes I do not see that enthusiasm in other young people, except when it comes to looking at the navel. The most interesting thing is that they claim to be inspired by Gandhi. Not only they, but also other young people from India and Greece who accessed the portal of the meeting.

Well, if so, it’s not all chaos on Dante’s burning borders. If 66 years after his murder, Gandhi was mobilizing young university students and youth from the periphery in various parts of the world and in Brazil, it would have been worth it.

Johan Galtung, the Norwegian sociologist who created the discipline of studies on peace and conflict, calls this transcendence.

It is an innovation: to invent solutions in difficult situations of conflict and that the politician or the political party, the political force, the social force has the capacity to create a position in which positions in conflict can migrate and the two positions can grow. This is a fantastic question, the very essence, the highest function of politics: to move not as if it were a business, buying a car or a house, but to create a new position.

Gandhi wants people, classes, groups, peoples, countries, not just India, to have self-confidence and autonomy, to depend as little as possible on other forces and to be able to live. And this requires a life as simple as possible, so as not to depend on goods that cannot be produced or have. This is the other key element, along with non-violence, autonomy and self-confidence.

Despite the scars of wars. Despite the bitterness of conflicts. Despite the sadness of battles. Take a look around.

The invitation. The dream is now.

Gandhi said it was a good sign when we “look closely at our own defects”. That’s how we become best friends with ourselves. By weaving our own clothes, we renounce the ambition of others. By producing our own salt, we learn to consume consciously.

Enhancing our dignity and keeping it as a precious grain. We make it grow and prosper without being violent at the whims of any rotten power. At a meeting where the consul does not give a speech, but sings… and loves… this tells me in my heart that it is possible to have hope.

I leave and when I get home, around 22.45, I put the key in the door. The street is deserted. A man turns the corner and yells at me in typical Eastern English.

– Please, miss… Speak English?

I reply, amazed:

– Yes. From India?

He says to me:

 – From Pakistan. Where’s the supermarket? I need to buy soy milk for my son.

I suggest:

– Two more blocks and turn right. Run, it’s closing!

He runs off…

I enter home. And I allow myself to dream of world peace.

The day I returned to Brazil. I once again met Gandhi at the airport to say: Goodbye! #oAmorSIM

The above text was written on the 66th anniversary of Gandhi’s murder. The visit to his residence in Mumbai took place in 2018.

5 respostas para “Gandhi persiste… shellAHAvellar”

Deixe um comentário para Shellah Avellar Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *