UM BOM ABRAÇO SE DÁ DE PÉ ShellahAvellar

Conheci pessoalmente Audálio Dantas 17 de agosto de 2013, na FNAC Pinheiros, no Lançamento do projeto Entrevista Aberta de Guilherme Azevedo, do Portal Jornalirismo. Tive a oportunidade de lhe fazer tantas e tantas perguntas sobre seu livro As Duas Guerras de Vlado Herzog e também sobre sua trajetória no Jornalismo e na luta pelos Direitos Humanos.

Menina ainda, nos anos 60, no Rio de Janeiro, já tinha lido, na Revista Cruzeiro sobre sua “descoberta” Carolina de Jesus e seu Quarto de Despejo.

E nos Anos 70, na Revista Realidade sua matéria Povo Caranguejo sobre os Catadores de Caranguejo do Mangue da Aldeia Livramento na Paraíba.

Nem eu mesma tinha noção da importância daquele momento histórico, até começar a entrevista. Debatemos sobre Jornalismo Literário, minha paixão, até que finalizei a entrevista com uma última pergunta.

-E se Vlado Herzog, estivesse aqui agora, qual a pergunta que você gostaria de ter feito,   e deixou de fazer a ele?

Audálio parou, e seu silêncio grave, durou um minuto. Respirou e disse: -Você faz muitas perguntas difíceis…(todos rimos)

E ele respondeu: Vlado,por que você disse à Repressão que não era comunista, no seu interrogatório?

E eu disse: -Você já respondeu a esta pergunta, quando deu ao seu livro o título de AS DUAS GUERRAS DE VLADO HERZOG.

Ele disse:-Como assim?

Respondi:-Talvez porque já tivesse fugido de uma guerra, e agora enfrentando mais uma, na própria pele dilacerada, e de sua impotência frente a uma realidade brutal, tenha sentido medo. E o desespero pode provocar reações imprevisíveis.

Ali encerrou-se a entrevista e começou uma profunda amizade de respeito mútuo.

http://www.jornalirismo.com.br/videos/documentario-entrevista-aberta-com-audalio-dantas/

https://www.youtube.com/watch?v=ipX3pt-eQyk

Voltei a entrevistar Audálio Dantas, numa matéria sobre o Desaniversário do Golpe Militar em março de 2014.

http://www.jornalirismo.com.br/jornalismo/desaniversario-do-golpe-ser-de-esquerda-ontem-e-hoje/

Daí, já nos frequentávamos. Conheci sua família linda, Sua esposa, a guerreira Vanira Kunc. Sua doce e talentosa filhotinha Mariana  e a portentosa Juliana que lhe seguiu os passos. Bem como os filhos de outro casamento e de seus leais amigos .Estive presente em vários lançamentos e comemorações familiares e de honra a seu reconhecido mérito.

Mas, nada se compara à sua indicação ao prêmio Averroes 2017.

Em duas etapas. O dia da comemoração da indicação e o dia da entrega propriamente dita.

A mais perfeita tradução destes eventos é a seguinte: Um festival de Afetos.

Lá estavam pessoas que realmente lhe amavam e reverenciavam.

E, mesmo os que não se conheciam, sorriam uns para os outros, confraternizavam e se abraçavam por respeito a você.

Pensei comigo, estar aqui, no meio de tantas cabeças brilhantes, olhares límpidos e sorrisos largos era por si só uma revolução: A potência da Palavra em Ação.

E, então, ao final, me aproximei para dar um abraço e um “até breve”.

O guerreiro estava descansando da festa de entrega do prêmio Averroes.

Eu disse: – Pode ficar aí sentadinho!”

Daí ele se levantou e falou:-Um bom abraço se dá de pé!”

E, foi nosso último abraço terreno.

Entretanto o abraço cósmico se eternizou naquele momento, porque não sabíamos que seria o último.

Nos reencontramos no auditório do Sindicato dos Jornalistas, sua casa maior, em maio de 2018.

E, junto a sua família e aos seus  amigos fiéis, numa tarde triste, de mãos dadas numa ciranda ao seu redor, sob a foto de Vlado Herzog, e sob um céu que não era o de Luiz Gonzaga, se deu a despedida oficial, meio ao burburinho dos profissionais de Comunicação e do Jornalismo que você tanto amou e que lhe trouxe tantas alegrias e desapontamentos.

E, hoje, quando você completaria 91 anos, aqui vai o meu abraço.

Em plena quarentena, face a uma pandemia sem precedentes na história da humanidade, sob a chibata de um fascismo mascarado de Democracia. Aquela mesma, nossa velha conhecida, sempre ameaçada de morte ao longo das civilizações.

Permanecemos todos de pé, ainda que com o coração partido e os pés sangrando.

E, sim, querido camarada Audálio.

O nosso grito é o seu grito.

E, embora o povo se arraste ,neste momento infernal, por uma uma onda de estultícia e embrutecimento , a Liberdade criadora modela a natureza e a delicadeza exalta o sublime .

Feliz Aniversário!

ps: agora você já deve ter tido a resposta do  Vlado, à sua questão, ao vivo e em cores do outro lado da vida.

http://www.sjsp.org.br/noticias/audalio-dantas-e-homenageado-com-o-premio-averroes-2017-00ea

2 respostas para “UM BOM ABRAÇO SE DÁ DE PÉ ShellahAvellar”

  1. Conheci o Audálio. Um bom deputado federal, um histórico dirigente no Sindicato dos Jornalistas e um brilhante militante da Sociedade Civil – uma simpática, alegre e admirável pessoa. Teve uma participação substantiva na redemocratização. Você teve um brilhante amigo!

Deixe um comentário para Shellah Avellar Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *